“Não importa se
a estação do ano muda”...
Se o século
vira, se o milênio é outro.
Se a idade
aumenta...
Conserva a
vontade de viver,
Não se chega a
parte alguma sem ela."
Fernando
Pessoa
Poderia escrever acerca
da Vontade de formas diversas, mas achei interessante partir de sua descrição
iconográfica. As imagens podem ensinar mais que as palavras. Assim, usem a
imaginação para visualizar a ideia descrita a seguir.
Cesare Ripa, in Iconología II, representa a Vontade como uma mulher jovem com uma
régia coroa e levando asas. É semelhante a uma Rainha que, assentada na parte
mais nobre e mais elevada do homem, dispõe suas leis. Com uma de suas mãos
sustém um Mastro, cuja vela está inchada pelo vento enquanto que com a outra
mão, colhe uma flor de Heliotrópio. É representada regiamente coroada, pois é
tida como rainha. A vela inchada demonstra que os ventos de nossos pensamentos,
quando estimulam a vontade, fazem com que a nave, ou seja, todo o homem, tanto
em seu foro íntimo, como em seu aspecto externo, se mova e se encaminhe para
onde ela o arraste.
Enquanto
o Heliotrópio,[i]
que sempre segue a órbita do Sol, nos indica que o ato de vontade não pode ser
julgado por si mesmo, mas por seu objetivo que se reputa um bem e é como tal
considerado, o qual, em consequência, impulsiona sem remédio a dita vontade à
ação de querer e ao feito de mandar sobre nós mesmos.
Dessa precisa definição, verifica-se que
a Vontade não deve ser confundida com o mero desejo, pois como Rainha assentada
na parte mais elevada do homem não se conforma com caprichos do querer. Quando se
diz: “tenho vontade de comer, dormir, viajar, consumir...” não se está
referindo à essa virtude, mas aos desejos que consomem e condicionam, a uns
mais, a outros menos. A vontade nasce de um querer inteligente e não de desejos
criados pela propaganda ou pela moda, os quais até a pouco tempo nem se
imaginava possuir!
Continuem seguindo a descrição de Ripa.
Vejam que a alegoria da vela insuflada pelo vento indica que a Vontade é
instrumento poderoso para que se alcancem todas as metas, tanto interiores
quanto exteriores. Nasce de uma decisão lúcida acerca de aonde se quer chegar e
de uma capacidade também lúcida de manter o impulso até chegar lá. Permite que se
fixe um objetivo e se caminhe com passos seguros que levarão até ele. Projeta
um prolongamento no tempo e não cede no seu esforço enquanto não alcança o
objetivo fixado.
É por meio desse vento propulsor que se consegue
vencer um hábito, que se depura uma emoção, que se clarifica um pensamento e
que, ainda, se alcancem todos os objetivos que foram traçados de forma
consciente e inteligente.
Diante desse contexto
não há mais que falar em “falta de sorte” ou de tempo; não há mais que se
responsabilizar o meio onde se vive ou a forma com que foi criado, ou de
qualquer outra coisa, quando se deixa de conseguir algo a que se propôs. É
imperioso entender que essa incapacidade momentânea ocorre enquanto não se imprime
à Vontade a força necessária para chegar até o alvo. É como se naquelas velas ainda
não soprasse o vento que encaminha a embarcação ao seu porto de destino. Entendam
que somos a embarcação e o vento!
Vê-se também que a jovem rainha colhe a
flor do Heliotrópio, flor esta que acompanha o movimento do Sol. Nessa chave, o
ato insuflado pela Vontade não é bom ou mau por si mesmo. É uma força e é
preciso, antes, que se lhe observe o objetivo. A sociedade está repleta de
exemplos de pessoas que possuem inquestionável força de vontade, mas que nem
sempre alcançam resultados dignos de serem relacionados com a nobreza que a
representa. Assim, é preciso atentar para o valor daquilo que se almeja. Não
basta o ato volitivo, é necessário qualificá-lo de forma que espelhe a Bondade,
a Beleza e a Justiça!
A
grande filósofa do século XIX, Helena Petrovna Blavatsky, dizia que a Vontade constrói os Universos manifestados
na eternidade. Ou seja, tudo o que se vê construído no
mundo, é rastro da Vontade. A Vontade, então, deixa como rastro o Universo
visível.
É preciso refletir: “que tipo de rastro quero deixar?” Marcas que provoquem
sadio orgulho de ações e de conquistas? Ou marcas diante das quais pessoas se
curvarão, envergonhadas, diante de si mesmas?
É preciso deixar que
soprem os ventos da Vontade para que todos os barcos cheguem ao seu
ancoradouro, cumpram seus objetivos.
É preciso que tais
portos sejam dignos e capazes de fazer com que, uma vez ali, os homens se vejam
melhores, mais elevados e mais verticais!
#casadeeuterpe #vontade #iconografia
1. Bot. Nome comum às plantas boragináceas do gênero Heliotropium, de flores miúdas, freq. roxas ou brancas, muito us. na medicina
caseira e com fins ornamentais.
3. Bot. Ver girassol.
[F.:
Do tax. Heliotropium < lat. heliotropium.
Ver heli(o)- e -tropo.]
heliotrópio2 (he.li:o.tró.pi:o)
1. Bot. Qualquer planta cujas flores se voltam para o Sol.
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