O Toque do Clarim - Casa de Euterpe
Ao
longe ouve-se inconfundível som...
Os
clarins soam nítidos e cristalinos. Seu chamado é um canto de esperança, de guerra
e de conquista. A Terra estremece e a música que deles ecoa é capaz de atingir
as fimbrias do Ser e fazê-lo despertar de seu sono de séculos.
Aos
poucos, asas dormentes começam a se movimentar. Estão pesadas por inércia. É difícil
o movimento. Porém, ao tempo em que ouve o chamado das trompas, busca alçar-se
em voo como em períodos remotos e quase esquecidos. Ergue-se paulatinamente...
procura orientar-se diante do cenário ante o qual se encontra.
Ao
longe, observa que exércitos se organizam no Campo de Kuru e orienta a atenção
para reconhecê-los. Identifica duas hostes igualmente esplêndidas.
A
memória, amiga de sua identidade, resgata antigas imagens e a Alma semidesperta
pode nomear os litigantes. De um lado reconhece o exército dos Pandavas; do outro,
o dos Kuravas. Recorda a nobre estirpe que ambos representam e vê nessas
armadas altivos e destemidos guerreiros dispostos à Vitória.
Ouve
generais emitirem ordens de comando e assiste príncipes se posicionarem para a
luta. O brilho dos escudos, os uniformes engalanados e as armas posicionadas lhe
ofuscam os olhos desacostumados às visões celestiais.
Ao
longe, vê centenas de estandartes flamulando ao vento. Hastinapura ergue-se
majestosa no horizonte e está em festa. Em suas amuradas pode pressentir uma
assembleia de expectadores prontos para ovacionar aquele que ousar conquistá-la.
Percebe
que ela própria é convocada à luta e que é preciso escolher em que polo lutar.
Estremece de pavor ante a iminência do embate e as asas, antes alçadas, se
encolhem novamente. A Alma se contrai sobre si mesma. Recusa-se a olhar para
frente. Recusa-se a mirar os exércitos. Recusa-se a proceder à escolha. Recusa-se
à batalha. O medo da perda, o medo da dor, o medo da morte impede-lhe os
passos.
Nesse
estado de terror estupidificante, percebe majestoso carro de guerra posicionar-se
entre as hostes preparadas para a batalha. Olha fixamente nessa direção e vê no
comando da biga dourada um Ser Esplendoroso. Luz emana em todas as direções. Os
exércitos silenciam. A Alma reconhece o Excelso Condutor: Krishna.
É
Ele pessoalmente quem comanda a caleça puxada por magnifica quadriga de cavalos
brancos. Imponente, o Deus dirigi-lhe o olhar. Mesmo àquela distância pode sentir
o fogo que emana dos profundos olhos divinos. Pode sentir o poder que procede
daquele Ser Sublime que se dignou a atentar para ela. Comovida, devolve-lhe a
mirada.
Ao
verificar a correspondência ao seu chamado, Krishna dirige o carro em sua
direção... Seu coração se acelera, lágrimas lhe escorrem pela face e se põe à espera
da aproximação célere da Divindade. O Deus se acerca dela. Interrompe a corrida
e estanca o carro junto de si... Desde o alto, o Celeste Condutor dirige-lhe a
atenção, estende-lhe a mão e lhe diz em um sussurro que, apesar disso, pode ser
ouvido pela eternidade: VEM...
As
asas se movimentam, o ar se revoluta, os clarins emitem novamente sua canção e os
exércitos aclamam em uníssono. Ela se ergue de um salto e alcança a Mão que lhe
está estendida. É alçada para o interior do carro. Ali, encontra o arco que lhe
foi confiado a muito tempo. Empunha a arma e volta a face na direção do Deus. Seus
olhares se cruzam e seu pensamento capta o que ele quer lhe dizer: luta...
persevera... confia... Eu estou contigo hoje e sempre...
Já
não há mais dúvida...
Já
não há mais solidão...
Já
não há mais medo...
Já
não há mais possibilidade de desistência... pois, em seu íntimo mais profundo, sabe
que o Divino Mestre jamais a abandonará e que jamais será esquecida...
#casadeeuterpe #filosofia #clarim #krishna #alma #mestre #discípulo
Comentários
Postar um comentário