La Mala Hierba - Casa de Euterpe



Quando eu era menina, visitava constantemente a casa de minha avó paterna testando a paciência dela. Desse tempo de infância gravei imagens que me acompanham até hoje. Uma delas é a do quintal que aquela casa tem e que, atualmente, não me parece tão grande quanto me parecia naquele tempo.
É desse quintal enorme que meus olhos infantis viam e que ficou em minha memória que surgiu a recordação das tiriricas.
Quem é do interior de São Paulo ou de qualquer outro estado é bem capaz de saber do que estou falando. Tiririca é uma erva daninha e era a principal plantação daquele terreno. Lembro-me de minha avó sentada em um banco arrancando aqueles matinhos. Quase todas as tardes, incansavelmente, ela fazia isso.
Recordo-me de ficar ao seu lado brincando com a terra e arrancando os matinhos também, apenas com a diferença de que eu arrancava só os talinhos, pois não tinha força suficiente para puxar de forma que saísse toda a planta.
Ouço ainda a voz de minha avó dizendo: “Filha, tem de arrancar pela raiz, senão nasce de novo...”. Eu entendia, porém não conseguia agir da forma como ela fazia e continuava arrancando somente os talinhos. Minha avó ria e me explicava que a tiririca é uma praga que asfixia as demais plantas; que se não for devidamente capinada toma conta de tudo e nada mais se desenvolve. Dizia que para a luta não ser inglória, era preciso força para que a tal da tiririca não resistisse e voltasse.
Muitos anos depois, durante aula com excepcional filósofa peruana, a imagem dessa passagem de minha infância retornou bastante viva e atual, pois ao discorrer acerca da necessidade de termos especial cuidado com o que plantamos em nosso interior, dizia a mestra que devemos, todos os dias, arrancar a “mala hierba” que insiste em medrar.
Essa erva daninha que ameaça tomar conta de nosso jardim interno, ensinou-me a mentora, pode ser identificada com tudo aquilo que nos impede de caminhar em busca de nosso aperfeiçoamento. Pode ser identificada com nossos medos, dúvidas, angústias, ansiedades, inércias, críticas, preconceitos... enfim, com tudo que nos trava, que nos atalha o avanço.
Como a tiririca, tais ervas são resistentes. Temos de arrancá-las uma, duas, três e inúmeras vezes. E ainda, temos de procurar arrancá-las pela raiz, pois assim como a outra, esta renasce sempre que sobra algo de seu na terra de nossa alma.
Arrancá-las pela raiz leva tempo. É trabalho que se faz com persistência, com constância. Não é fácil, mas também não é impossível.
Requer força espiritual que vamos adquirindo ao tempo que crescemos intimamente. Como crianças, no início do trabalho falta-nos essa força, mas com o tempo e com a prática, ela vai aumentando até o ponto que conseguirmos limpar totalmente nosso jardim.
Todavia, até que isso ocorra, até que a limpeza total se dê, é interessante que nos sentemos em um banquinho e que todos os dias arranquemos a “mala hierva”, sem descanso, sem desalento, sem esmorecer.
É preciso que em meio as florezinhas que já existem, sejamos capazes de identificar a “hierba perjudicial”. É necessário que não confundamos “mala hierva” com “buena hierba”. A atenção deve estar alta, pois existem ervas daninhas que são lindas e que nos iludem com sua beleza.
A reflexão diária nos auxiliará no mister de escolher o que arrancar e o que cultivar, sem o perigo de embaralharmos as coisas.

É preciso que não tenhamos receio em iniciar a capina, pois ao passo que fizermos essa limpeza, continuarão a florescer nossas mais ricas semente espirituais, que se desenvolverão e nos presentearão com o melhor e o mais belo jardim que somos capazes de conceber.

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