O Mito do Rei Arthur - Casa de Euterpe
O MITO
Os
mitos são histórias sagradas,
pertencentes ao domínio do divino e formam parte do simbolismo universal. Como
formas sublimes, relacionam-se com o ser humano desde a sua mais tenra idade.
O
mito e o simbolismo como um todo são uma semente
e, ao mesmo tempo, uma fórmula acabada.
Como semente é a intuição que chega de forma direta ao coração humano e cresce
como linguagem simbólica, ou seja, da imaginação.
De
acordo com o Professor Michel Echenique, os fatores componentes da fórmula do
mito são: a medida, a proporção, o ritmo e a harmonia. Isso
permite o desenvolvimento das ciências como a matemática, a estereometria e a
dialética, entre outras.
Este
mito em particular sofreu, através do tempo, uma série de transformações.
Talvez, a mais importante seja a antropomorfização de todos os seus personagens
com o fim de popularizá-lo e torná-lo acessível ao público comum.
Nas
suas origens, os personagens que agora observamos são símbolos que formam parte de forças imponderáveis da natureza e de
princípios e leis que regem o destino de todo o Cosmos. Esses personagens
formam parte de uma doutrina esotérica que narra muitos mistérios por meio de
sete chaves de interpretação, que tornam o Universo uma realidade possível de
ser conhecida pelo ser humano.
Também
nele encontramos uma espécie de Geografia Sagrada, que permite descobrir uma trilha que afasta o homem da dor e da existência condicionada, para projetá-lo
a uma forma de vida insuspeita pelo homem moderno, muito mais plena e feliz.
Assim,
pouco importa a origem histórica de Arthur e de seus Cavaleiros ou se existiram
realmente. Neste momento, abordaremos o tema sob o aspecto psicológico do mito
e uma de suas chaves de interpretação.
A HISTÓRIA DE ARTHUR
A
lenda indica Arthur como fruto da relação de Uther Pendragon (Duque de
Cornuales) com a Princesa Igraine, mulher de seu inimigo Gorlois da Cornualha.
Uther perdeu-se de amor por Igraine e esse desejo foi tão grande que persuadiu
Merlin a usar seus poderes e transformá-lo em uma cópia de seu rival. Dessa
forma, pode entrar no castelo e estar com Igraine sem que ela ou qualquer
pessoa suspeitasse da sua verdadeira identidade. O filho, Arthur, foi concebido
nessa união magicamente assistida.
De
acordo com o estabelecido, o menino foi entregue a Merlin, que, por sua vez, o
confiou a Sir Hector e à sua mulher. Ambos, tinham já um filho, Kay.
“Hector”
significa humilhado, mas no inglês antigo e popular corresponde a bulley, que quer dizer “palavra”,
“verbo”.
Kay
é o nome da décima primeira letra do alfabeto inglês, número que no Tarô corresponde
ao arcano “A Força”.
Isso
indica que Arthur receberia de Hector a educação e de Kay, a coragem para ser
rei.
Mais
adiante, Arthur se converteu, efetivamente, em rei, após passar pela prova da
espada na pedra, na qual estava inscrita uma profecia que dizia: “Aquele que for capaz de extraí-la de onde se
encontra aprisionada como rei de toda Bretanha por direito divino será
reconhecido.”
Depois
de conduzir com êxito seu exército contra os invasores saxões e pacificar todo
o país de Logres (Inglaterra), Arthur formou a Ordem dos Cavaleiros da Távola
Redonda, para a qual convocou os melhores cavaleiros do mundo.
PRINCIPAIS
COMPONENTES DO MITO E SEU SIGNIFICADO SIMBÓLICO
Mesmo
que as origens históricas de Arthur estejam ocultas na escuridão dos mitos, parece
demonstrado que ele foi um rei do século V ou VI que reagrupou vários reinos,
depois do desaparecimento da dominação romana do século anterior.
As
lendas do ciclo artúrico são regidas pelas leis sagradas da Iniciação. O Rei
Arthur, Merlin, Guinevere, Lancelot, Percival ou Galahad são arquétipos universais que pertencem ao
acervo cultural de toda humanidade. Por trás de suas façanhas, encontra-se o
simbolismo da eterna busca do homem pela
Verdade, representada pelo Santo
Graal.
Tais
lendas são patrimônio de tradição mágica, pois é a interação do “outro mundo”
com a nossa dimensão. São, por fim, conhecimentos da experiência humana,
procedentes de uma dimensão atemporal.
Dessa
forma, reconhecendo que a linguagem do mito é o símbolo, relacioná-lo com os principais elementos dessa história
será o nosso objetivo.
O
Santo Graal
Um
dos temas principais das lendas do Rei Arthur é a busca do Santo Graal, que foi
estreitamente vinculada à Ordem da Cavalaria da Távola Redonda.
O
Santo Graal da literatura medieval européia é o herdeiro de dois talismãs da
religião celta pré-cristã: o Caldeirão do Dagda e a Taça da Soberania. Assim, a
lenda do Graal é uma versão cristianizada do antigo tema do caldeirão celta.
Porém, o Graal é algo muito mais profundo e esotérico do que nos contam essas
histórias tardias e cristianizadas.
Embora,
o simbolismo do Graal no Ocidente tenho sido propagado fundamentalmente por via
do cristianismo, as autênticas origens da lenda encontram-se no antigo motivo
do recipiente sagrado que é símbolo
de poder e fonte de milagres.
Assim,
o Graal representa o recipiente que preserva a vida no mundo e por isso
simboliza o corpo da Deusa ou da Grande Mãe: relaciona-se com os cultos à
vegetação e constitui um vestígio dos ritos iniciáticos e da fertilidade.
Poderia dizer-se que seu simbolismo é praticamente inesgotável. Em alquimia,
equipara-se com a pedra filosofal, cuja representação é a união com Deus. No
budismo tibetano, encontra-se um equivalente nos crânios humanos que
representam recipientes de transformação.
Nas
tradições arturianas, ele tem o poder de dar a cada um o prato de carne de sua
preferência: seu simbolismo é análogo ao da cornucópia.
Dentre
os inúmeros poderes que tem, além do poder de alimentar (dar a vida), contam-se o de iluminar (iluminação espiritual) e o de se fazer invencível.
Para
Jung, o Graal simboliza a plenitude
interior que os homens sempre buscaram. Seu ideal é a busca da Verdade, do eu interior.
A
Demanda do Santo Graal exige condições de vida
interior raramente reunidas. As atividades exteriores impedem a
contemplação que seria necessária. Ele está perto e não é visto. É o drama da
cegueira diante das realidades espirituais, tão intensas quanto mais se crê na
sinceridade da busca. Na verdade, o homem está mais atento às condições
materiais da Demanda que às suas condições espirituais.
A
Demanda do Graal inacessível simboliza, no plano místico, que é essencialmente
o seu, a aventura espiritual e a
exigência de interioridade que só ela pode ter. A perfeição humana não se
conquista a golpes de lança como um tesouro material, mas por uma transformação radical do espírito e do
coração.
O
Graal conserva-se oculto às pessoas comuns; chega-se ele trabalhando em uma
longa peregrinação e é conseguido por meio de alimento espiritual. Todo caminho é pessoal, já que cada um se
alimenta com o que necessita e faz o esforço devido para conseguir ver, sentir
e fazer reinar Deus em seu próprio coração. O Graal é a instância final.
Conforme
ensina o Professor Taboada, o Graal é, indubitavelmente, um estado de Consciência.
O
Reino de Avalon
A terra sagrada das noviças
devotadas à antiga Deusa, também chamada de Grande Mãe, foi palco de grandes
acontecimentos na saga do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Avalon, a “ilha das maçãs”, ficava na Inglaterra, em um lago rodeado de juncos,
envolta em uma fechada cortina de bruma. Depois que a neblina se abria, um
barqueiro misterioso conduzia o visitante até o lugar sagrado.
Viviane, a Senhora do Lago,
liderava as donzelas que viviam em retiro devotado à Deusa. Mais tarde, foi
sucedida pela fada Morgana, meia irmã do Rei Arthur. Segundo a lenda, uma mão
surgida das águas do lago de Avalon presenteou-o com sua lendária espada Excalibur.
Avalon
é o lugar sagrado onde permanece o Graal para alimento e conservação dos
Cavaleiros que conseguiram chegar até ela.
Avalon
foi o refúgio preferido de Arthur, que para lá se dirigia em busca de conselhos
ou para se curar magicamente das feridas de guerra.
Foi
uma ilha de iniciação, uma pátria
notadamente espiritual, um lugar onde o mágico só pode ser superado pelo
mágico. Sempre será reconhecida como pátria do Graal e assim, está em nosso
interior como um refúgio destinada às nossas reflexões.
Camelot
Camelot, o grande castelo, é a sede do Rei Arthur e
da Ordem da Távola Redonda. É um lugar onde se rende culto à nobreza,
fidalguia, valor, temperança e amor cortês. Camelot pode ser considerada como o
centro luminoso de nosso mundo íntimo.
Em algum momento de nossa existência, nasce-nos a
vontade de realizar algo que valha a pena, que justifique nossa passagem pela
vida. No nosso mundo íntimo está esse impulso do qual necessitam os sonhadores
e os aventureiros das idéias. Sem esse impulso não se pode concretizar idéias e
nem realizar sonhos.
Esse ponto
luminoso de nossa consciência, fonte de toda a inspiração criativa é
Camelot.
Dessa nossa Camelot interna orientam-se nossas
futuras experiências para algum provável destino, que sabemos verdadeiro.
Camelot alimenta nosso afã de perfeição. Sem
ela não podem existir os idealistas.
Ela é a pequena partícula de sonho que tem a grande
capacidade de sobrepor-se à tediosa realidade cotidiana.
Quando o homem toma consciência de sua Camelot
interna, polariza para ela todo seu ser. Então, sua visão adquire sentido de
grandeza, sintetizando em um Ideal
esse supremo sentimento do Ser e da Eternidade.
Camelot será, sempre, rebelde ao tempo e
ao espaço e por meio dele chegaremos à pátria do Graal.
A
Espada do Poder – Excalibur
Arthur
extrai a Espada da Pedra durante um torneio que escolheria o novo rei, após a
morte de Uther.
A
lâmina de metal que surgiu da pedra,
quando a Espada foi retirada, indica o material,
enquanto a Espada em si indica o espiritual atuando sobre a matéria. A
matéria é o próprio indivíduo – Arthur – que recebe o Verbo como precioso dom,
pois é puro.
O
homem só se transforma em rei quando consegue ultrapassar seu ego, seus
instintos e paixões.
Ao
retirar a Espada, Arthur adquire poder.
O homem medíocre apóia seu poder em meios externos, pois só assim pode
encontrá-lo. O eleito o recebe
quando sua plenitude de consciência o acredita preparado para tal
responsabilidade.
O
débil vê no poder uma finalidade. O
forte, só um meio.
Assim,
Arthur se outorga um poder porque em seu interior existe algo em sintonia com
esse poder (sua capacidade para extrair a espada aprisionada), algo que nenhum
dos que tentaram antes possuíam.
A
Espada Mágica, Excalibur, então, faz alusão ao poder, mas ao poder viril e o fato de extraí-la da pedra
significa que um poder está sendo liberado da materialidade. O homem, segundo
as tradições esotéricas, possui o princípio de uma força de natureza viril que,
ao liberar-se, manifesta-se como um poder de mando com características mágicas.
Para isso, o homem deve encontrar-se em um estado de pureza ideal, que é representado alegoricamente pela infância de
Arthur no momento da extração da Espada.
Como
o poder é outorgado para que o eleito possa cumprir seu mandato divino, então,
uma vez concluído o trabalho, deve ser devolvido o dom. Assim, depois da última
batalha, Arthur, ferido mortalmente, entrega Excalibur e ela é devolvida às
profundezas do Lago Encantado.
A
Távola Redonda
A
Távola Redonda pertenceu ao Rei Uther Pendragon. Após a morte de Uther, a mesa
passou pertencer a Leondegrance, pai de Guinevere e este, posteriormente, deu-a
para Arthur como presente de casamento.
À
sua volta, reunia-se a Ordem dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Para
Jung, o círculo é o símbolo da psique
(o próprio Platão descreve a psique como uma esfera).
A
Dra. M.-L von Franz explica o círculo como o símbolo do self (morada da Alma). Ele exprime a totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o
relacionamento entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo
está presente na adoração do sol ou na religião moderna, em mitos ou em sonhos,
nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibet, nos planejamentos das cidades ou
nos conceitos de esfera dos primeiros astrônomos: ele indica sempre o mais importante aspecto da vida – sua extrema e
integral totalização.
Na
seita zen, o círculo representa o esclarecimento, a iluminação. Simboliza a perfeição humana.
De
acordo com o Dicionário de Símbolos,
“em primeiro lugar, o círculo é um ponto estendido; participa da perfeição do
ponto. Por conseguinte, o ponto e o círculo possuem propriedades simbólicas
comuns: ausência de distinção ou de
divisão. (...) O círculo é considerado em sua totalidade indivisa.
Assim,
a Távola Redonda (círculo) representa a integralidade do homem, sua harmonização.
Aquele que está pronto para a viagem em busca da plenitude espiritual,
representada pelo Graal.
Arthur:
o Rei do Mundo
O
Rei Arthur representa em si uma função régia, vinculada intimamente à tradição
hiperbórea (adoradores do Sol). A figura de Arthur através de analogias feitas
com a mitologia celta, pode ser relacionada com o Deus Artarus, que se supõe
tenha roubado do recinto dos Deuses um Caldeirão Sagrado, cuja principal
virtude era o conhecimento supremo.
O
nome Arthur pode ter várias interpretações. A que parece mais acertada é a significação
da palavra celta Arthovirus: arthos – urso e viros – homem.
Arthur
exibe uma imagem viril e guerreira, uma imagem que concorda com a tradição
hiperbórea. Na linguagem latina, Arthur será traduzido como Ursus Horribilis.
É
inegável que o Rei leva em si a imagem do gênio celta.
Tem-se
estabelecido um contato verdadeiro entre o Rei Arthur e o principio do Ser
Universal. Entretanto, não se trata de um título e sim de uma função, ou seja,
de uma potestade para transformar o reino de Arthur na pátria do Graal.
Assim,
podemos imaginar que o reino de Arthur
seja nossa personalidade
(quaternário) e que o arquétipo do Rei
encarna o poder de transformá-la na pátria do Graal – estado elevado de consciência. Arthur, aqui, seria o Arjuna
indiano, aquele que quer lutar para transpor seus estados inferiores.
Merlin:
o Encantador
Esse
mago representa o mestre, o guru indiano, o sacerdote que guia as almas, o xamã.
Seu
nome provém, por um lado, de merlius
e merculinus, termos que significam mercurial, mercúrio. Em inglês, Merlin
é o nome de um pássaro da família do mirlo. Possui cor negra e tem o peito
branco, representando a união do branco e do negro, o equilíbrio de pares
opostos.
Ele
tudo vê e tudo sabe. Assim, pode oferecer aos eleitos uma aventura diferente,
para que cada um possa, por uma via que lhe seja própria, ascender ao mistério.
Merlin
não é um herói, nem um messias. Ele é um mago e suas armas são a magia e a
sabedoria. Sua função não é a de realizar façanhas, mas, sim, a de educar um Rei e a de presidir a
fundação da Ordem de Cavalaria que seria modelo de todas as confrarias: a Ordem
da Távola Redonda.
Cumprida
sua missão no mundo, Merlin se retira da existência para dirigir-se ao mais
profundo do bosque. Deixa a cena artúrica antes que se inicie a sagrada busca
do Graal. Retira-se para o Bosque de Bronceliante, desaparecendo no seio
daquele mundo da magia que ele mesmo havia construído em meio a uma realidade
inefável, transcendente e metafísica. O grande mago retorna a si mesmo.
Merlin
foi o intermediário entre o
inconsciente e os homens, entre o Abismo Insondável e o espaço-tempo que ocupa
a história, entre o silêncio primordial e a expressão manifesta em símbolos
reveladores. Desde o seu nascimento até o seu “sono” mágico, cumpriu seu papel
de xamã, de fazer a ponte entre o
reino dos homens e o divino.
Gawain:
o Cavaleiro Perfeito
Sir
Gawain é um iniciado no círculo sagrado da Távola Redonda e, portanto,
comprometido com uma vida modelo, coerente com o Ideal Cavalheiresco.
Conta
a história que Sir Gawain se submete para ser decapitado pelo Cavaleiro Verde:
“No dia do Ano-Novo, quando o rei, a rainha e a corte estão reunidos para um jantar, um cavaleiro de tamanho incomum entra no casarão com seu cavalo. Pede que algum cavaleiro ali presente lhe dê um golpe no pescoço com o machado que ele carrega e que, no próximo Ano-Novo, o oponente esteja na Capela Verde para receber, por sua vez, o seu golpe. O cavaleiro e suas roupas, assim como seu cavalo, os trajes e os arreios, tudo era verde. O ouro e o aço estavam manchados de verde, os arreios reluziam e cintilavam com pedras verdes e filetes de ouro estavam entrelaçados na crina verde do cavalo. Artur imediatamente se oferece para o desafio do cavaleiro, mas Gawain se interpõe e o toma para si. Com um golpe de machado, decepa a cabeça do cavaleiro que rola pelo chão, espalhando sangue na carne verde. O cavaleiro verde recolhe a cabeça. Levanta as pálpebras, olha vivamente e então encarrega Gawain de encontrá-lo naquele dia, após um ano, na Capela Verde. Segurando a cabeça pelos cabelos verdes, monta em seu cavalo e deixa o casarão.
Um ano depois, para manter a palavra, Gawain chega ao castelo de Bertilak, anfitrião cordial e generoso que, por ter cor normal, não é reconhecido como sendo o cavaleiro verde. Gawain chega ao castelo em completo estado de exaustão. Recebido com hospitalidade, envolvido em um manto de arminhos enfileirados, é convidado a sentar ao lado de uma lareira com brasas de carvão. Quando Sir Bertilak retorna ao seu castelo, depois da caça, recebe o hóspede com muita cortesia e combina com ele que daria o produto de sua caça a Gawain todo dia e, em troca, Gawain lhe daria algo que tivesse recebido no castelo.
Durante a sua estada no castelo, Gawain recebe de manhã, antes de sair da cama, a visita da bela mulher de Bertilak, se vendo obrigado a resistir às suas investidas. Por dois dias assim o faz, aceitando somente beijos que, à noite, transmite a Sir Bertilak em troca da caça. Na terceira manhã, porém, a senhora oferece-lhe um cordão verde que o protegerá de qualquer feriment. O medo de sua provação faz com que o aceite, mas esconde o fato de seu anfitrião. Quando chega o dia do Ano Novo, para honrar seu compromisso, ele sai em busca da Capela Verde. Achando o local, o Cavaleiro Verde aparece para devolver o golpe de Gauvain. Se ele não tivesse aceitado o cordão verde, o machado teria caído sobre ele inofensivamente, mas, como isso não aconteceu, o machado esfola sua pele e seu sangue jorra. Agora revela-se que o Cavaleiro Verde é o próprio Bertilak, que havia sido enfeitiçado pela irmã de Artur, a fada Morgana. Depois de trocarem muitas cortesias, Gawain parte e retorna à corte de Artur, a quem confessa sua pequenez por ter aceitado o cordão.”
Decapitar,
na tradição arcaica, significa dar morte
à alma carnal.
Gawain
é um ser humano especial, um discípulo em sua trilha iniciática, porém, acima
de tudo, um ser humano, cujo único poder reside, talvez, em um profundo amor à
vida e isso não altera sua disposição em deixá-la no momento em que as supremas
virtudes o exigem.
O
conceito de morte não é dos Deuses. Pertence aos homens que ainda não tomaram
consciência de seu ser atemporal. Por isso, homens admiram Sir Gawain. Ele não
teme a morte e é valente e abnegado.
O
herói foi o modelo do perfeito cavaleiro. Homem sem mácula, que representa o exercício supremo do dever de servir a
seu Rei e a seu Ideal Cavalheiresco. Exemplo de abnegação, idealismo, sentido de dever, Gawain foi um símbolo
concreto daquela antiga cultura celta, verdadeiro arquétipo dessa tradição
primordial.
Foi suficientemente valoroso para desfazer as
aparências do mundo das ilusões e dos desejos e atreveu-se a viver uma
experiência atemporal.
Sir Gawain representa a psique masculina medieval em si mesma, nas angústias de suas
aventuras caracteristicamente viris. É o real herói da cavalaria inglesa
arcaica. Difere de Lancelot, pois manifesta sua masculinidade de forma
objetiva.
Lancelot
Du Lac: o Cavaleiro do Lago
Esse Cavaleiro representa o ideal varonil que existe na imaginação feminina. É o arquétipo de animus, essa imagem viril que habita a
psique da mulher.
Lancelot foi criado entre as águas (o oculto, o
profundo) por seres sobrenaturais (Dama do Lago), pelas fadas e também por um
lenhador para que pudesse atuar sobre a Terra. O lenhador simboliza a madeira, a lenha e o fogo que atua
sobre ela. É símbolo da sabedoria e da
morte.
Assim, Lancelot representa, em primeiro lugar, o oculto, o profundo, as forças do
inconsciente coletivo (criação nas águas) manifestando-se na consciência e,
em segundo lugar, a Sabedoria
(lenhador).
Seu nome significa Cavaleiro da Lança. A lança também
tem sua simbologia: representa o poder. Significa, ainda, a verdade, pois é reta e não se torce. O ferro da lança representa a força que tem a verdade sobre a
falsidade; e o pendão, que a verdade se mostra a todos.
Lancelot foi o protótipo do Cavaleiro justo, forte e
leal (apesar do episódio de adultério).
Conta a lenda que para demonstrar seu valor a Arthur
e merecer ser digno defensor da rainha, decidiu libertar o Castelo da Guarda
Dolorosa. Para isso, deveria livrar a fortaleza de um conjuro, escolhendo entre duas provas:
- passar quarenta dias entre pessoas do Castelo, vítimas
de sortilégios e encantamentos; ou
- procurar a origem de tais sortilégios, pondo em
risco a própria vida.
Escolheu a segunda prova. Conseguiu entrar na sala proibida do Castelo, onde
contemplou uma dama com duas argolas. O herói deveria, novamente, escolher
entre a primeira, que devolveria a donzela à vida, ou a segunda, que abriria um
perigoso poço. Lancelot optou pela segunda e liberou, assim, as forças escuras. Lutou contra elas até
derrotá-las e o Castelo transformou-se na Fortaleza da Guarda Gozosa.
A sala proibida é o próprio interior do ser, o lugar que não pode ser profanado, onde
só pode ascender um homem puro para libertar a Alma – a donzela acorrentada –
do ciclo de nascimentos, existências, mortes e renascimentos.
A façanha guerreira de Lancelot mostra-nos as provas
que todo aspirante à iniciação deverá atravessar. Deverá escolher entre a senda plana, dos atrativos desse mundo,
ou buscar aquela que é escura em si
mesma e combatê-la até sua desaparição.
Percival:
o Buscador
Sir Percival deve ser observado a partir
de dois aspectos: o mítico buscador
incansável, que se mantém constante e persistente em sua interminável busca do
sagrado e o guerreiro esforçado e
invencível, que finaliza sua empresa sagrada de um modo excepcional e se
transforma em um herói.
Percival simboliza o homem peregrino, na busca do infinito, representa as sucessivas provas iniciáticas de todo
candidato. Terríveis e desesperadas provas, mas que devem ser efetuadas com
êxito para se ascender ao Santuário do Graal.
O jovem Percival vivia no coração de um bosque com
sua mãe, viúva de Cavaleiro que odiava o canto dos pássaros e desejava
separá-lo da visão do mundo exterior.
Um dia, o jovem viu passar cinco Cavaleiros que
pensou fossem anjos, e, desse dia em diante, desejou participar como eleito da
Távola Redonda. Não podendo evitar sua partida, sua mãe morreu de dor pela
perda do filho. Esse foi o primeiro grande crime de sua inocência.
Ao chegar à Corte de Arthur, Percival venceu o
Cavaleiro Vermelho e ficou com suas armas, sendo recebido na Távola Redonda.
Percival era um espírito inocente, pois proveniente
do bosque (símbolo do erro e da escuridão do mundo e também da matriz da Mãe
Universal).
Sua vocação para a cavalaria indica seu desejo de consagrar-se na busca da verdade.
A mãe, símbolo da Natureza, tentou
segurar o homem com suas miragens. A linguagem dos pássaros que, na tradição
espiritual, simboliza a chamada da alma
e a música primordial do espírito, representa os estados superiores do Ser. É o símbolo da espiritualização que à sua mãe aborrece, demonstrando, claramente,
o desejo da matéria de enclausurar o espírito, evitando, assim, que o homem
descubra a verdade da trama ilusória de Maya.
Percival possuía o desejo da iluminação e sua via
era do coração. Por isso, escolheu as armas do Cavaleiro Vermelho que tem a cor
do sangue e do sacrifício, entendido o termo “sacrificar” como “converter em
sagrado”. Todavia, sua inocência era muito grande. Percival era puro, mas não
sábio. A pureza deveria converter-se em sabedoria por meio do processo
iniciático.
Após ser aceito na Ordem da Távola Redonda, Percival
visitou Gonerman, o Homem Prudente, que lhe ensinou o ofício das armas e as
virtudes da cavalaria.
Em sua busca pelo Graal, Percival chega ao Castelo
do Rei Pescador que sofria de uma doença incurável. Ali, foi recebido em um
grande salão, onde, assombrado, contemplou um empregado que segurava uma espada
com sangue. De trás, uma donzela segurava o Santo Graal em suas mãos. Uma
grande auréola deixava-se ver por toda a sala, quando o cortejo para em frente
de Percival. Nesse momento, ele não se atreveu a fazer a pergunta:
- “A quem serve o Graal?”
Faltou-lhe coragem e com isso infringiu uma das leis
sagradas da iniciação. Seu erro condenou o mundo a viver na escuridão e o homem, simbolizado pelo Rei Pescador, a
sofrer o tormento de uma ferida que jamais se fecha.
Percival perdeu a memória de Deus e lutou em
combates terríveis contra cavaleiros desconhecidos, vagando pela Terra como um
vagabundo. Entrou, dessa maneira, no ciclo maturativo, uma vez que a inocência
deveria ser ungida pela experiência.
Um dia, encontrou uma donzela vestida em farrapos
que lhe comunicou que seus lábios não puderam abrir-se na presença do Graal em
castigo por ter deixado sua mãe morrer pela dor de sua partida. Essa donzela
representa a própria consciência interior que se coloca à frente das consequências
cármicas de nossos atos.
No final de sua peregrinação, Percival foi liberado
da ilusão de sua própria mente e, alçando a iluminação, percebeu diante de si a
imagem do Castelo Virtuoso. O Graal apareceu de novo e, dessa vez, ele ousou
fazer a pergunta. Nesse instante, o Rei Pescador recuperou a saúde e o designou
como legitimo sucessor.
A lenda afirma que Percival morreu no momento da
contemplação do Graal. Tal acontecimento pode significar a morte da
personalidade ante o alcance da plenitude espiritual, interior, representada
pelo Graal.
Galahad:
o Conquistador
Filho e Elaine de Corbenic e de Sir Lancelot, Galahad
superou seu pai, tanto na Cavalaria, como na pureza de sua vida e tornou-se o
campeão do Graal, juntamente com Percival.
Porém, para que esse herói pudesse coroar a sua
grande aventura do Graal, deveria passar por diversas provas iniciáticas que o
qualificariam e provariam que ele era o eleito.
Foi armado cavaleiro por Lancelot e chegou à Corte
de Arthur no Dia de Pentecostes. Armado Cavaleiro, Galahad deveria começar sua
peregrinação, deveria provar a si mesmo, defendendo a Justiça, ajudando os
pobres, os débeis, os famintos e as damas, dedicando sua vida à maior Glória de
Deus.
Retirou uma espada da Pedra de Mármore Vermelho.
Essa Espada retirada da pedra é símbolo do poder
espiritual que lhe dá superioridade tal que, por seu intermédio, os demais
Cavaleiros certificam-se da existência do Graal, conseguindo vê-lo por alguns
instantes.
É esse Cavaleiro predestinado que inicia a sagrada
busca. A partir disso, todos os Cavaleiros da Távola Redonda se lançaram à
conquista do Graal.
Galahad, o adolescente puro e livre que não caiu em
tentação, representa o Paladim, cujo
símbolo é o Arqueiro que dispara a flecha que libera. Por isso, ver o Graal
libera, quer dizer, eleva o espírito
até outros planos mais sutis, onde Tudo é Um e Um é Tudo.
A pureza de Galahad se refere ao sentido unitário de
seu mundo íntimo. Ele conseguiu unir todas as partes que estavam fragmentadas e
pode ser o Rei do Graal. Nós podemos sê-lo também, quando houvermos despertado
o Galahad que existe adormecido em nosso mundo íntimo.
Mordred:
Mau Conselho
Mordred é filho incestuoso de Arthur e Morgana. Aproveitou-se
da debilidade do reino e da ausência do Rei, quando os Cavaleiros se
dispersaram em busca do Graal, para apossar-se do trono. Foi morto por Arthur,
a quem feriu mortalmente.
Mordred, em linguagem nórdica, significa “mau
conselho”. Passa a ter relevância quando a época dourada de Camelot entra em
seu declínio.
Representa uma espécie de energia bipolar. Uma energia que devemos, sempre, acima de todas
as coisas, ter sob controle. Caso contrário, Mordred toma o poder pela
força e a primeira coisa que faz é matar o Rei da Luz.
Mordred é o lado
escuro de nossa própria natureza. Está sempre oculto em cada um de nós,
esperando a oportunidade para aparecer inesperadamente e consumar o golpe que,
de maneira inevitável, será a causa de nossa própria destruição.
O Rei Arthur representa a consciência, ou seja, a nossa própria existência psíquica. Mordred
é esse complexo que tem sua própria existência independente de nós mesmos. Jung
chama esses complexos de unidades
viventes da psique inconsciente, como se fossem personalidades ou psiques fragmentárias independentes do controle
consciente e que se manifestam ou deixam de fazê-lo segundo suas próprias
tendências.
Tais fantasias são tão poderosas e tão nocivas e
persistentes quanto os estado físicos. Esses transtornos anímicos impedem que
nosso espírito possa adquirir sua própria forma de existência.
Mordred representa a besta e o demônio que dorme em
todo indivíduo. É nosso “filho psíquico” a quem cedo ou tarde teremos de
enfrentar, nos sujeitar ou destruir – um passo necessário para estabelecer a
total soberania de nosso próprio Ser.
Necessitamos enfrentar nossa própria besta, nossos
demônios, que não são outros senão nossos temores
e falsas crenças e vencê-los no
campo de batalha da vida consciente.
Morgana:
a Fada (Morgana Le Fay)
Seu
nome significa “a nascida do mar”. Assemelha-se à Vênus grega, símbolo do Amor
espiritual e está sempre associada à magia da Ilha de Avalon.
Morgana
é o espírito tutelar ou a Deusa do lugar. A animosidade que sente por Arthur é
proveniente de seu caráter provocativo
que tem a necessidade de colocar em
prova os humanos para averiguar quem é realmente merecedor de seu favor.
Pode
ser entendida como tudo aquilo que nos põe à prova e, normalmente, expressa o poder destrutivo das emoções – a
perdição dos seres humanos quando caem sob seu domínio. Provoca situações que
desequilibram emocionalmente, pois para conquistar o transcendente (o Graal), o
individuo deve superar o estágio das
emoções antes que elas o dominem.
Sua
função, além disso, é guiar e iniciar provas e verificações, fazendo com que a
Irmandade da Távola Redonda passe de uma simples Ordem de Cavalaria para um
grupo de Cavaleiros Iniciados. Assim, será sempre uma imagem de força e de
poder manifesto.
Guinevere:
a Noiva Florida
As damas do ciclo artúrico enquadram-se em duas
categorias bem diferentes e são representadas por dois tipos de mulheres:
Guinevere e Morgana.
Diferenciam-se até no aspecto físico: Guinevere com
cabelos ruivos ou loiros, bela e de aspecto inocente; Morgana, morena e sóbria.
Guinevere fora educada em uma escola cristã e
encarna os valores da nova religião cristã e patriarcal.
É a encarnação
do princípio que alimenta toda vida manifesta. Era a vida e a alma de toda
a corte. Seu nome significa “espírito branco” e é comumente associada à
Primavera e conhecida como Noiva Florida. Assim, pode ser associada à Deusa
celta Ainé, filha do Deus Owel (o Danaan), a dama da fertilidade e do amor,
padroeira das colheitas e protetora do gado.
Por um lado, na mitologia celta, a mulher é a força
capaz de fazer o homem transcender sua condição humana. Por outro, os textos da
Saga do Graal colocam a mulher como tentação luciferina. Essa tentação não se
refere precisamente ao lado sensual da mulher, mas à conquista da feminilidade
inibida e sufocada em algum rincão do inconsciente.
Todos esses mitos têm expressado a idéia de que
dentro de um mesmo corpo coexistem o masculino e o feminino. Assim, Guinevere
pode representar, segundo C. G. Jung, o anima
que existe dentro dos corpos masculinos.
CONCLUSÃO
Dois temas relacionados com a saga arturiana
apresentam aspectos diferentes no que se refere ao ideal que impulsionou a
aventura da busca. E é precisamente essa dicotomia que permite a distinção
entre o poderíamos chamar de Cavalaria Terrena e de Cavalaria Celestial.
A Cavalaria
Terrena teria como ideal a mulher, enquanto a Cavalaria Celestial abraçaria como objetivo a conquista do Santo
Graal.
Para a conquista do Graal – a plenitude interior - a
pergunta que orientou Galahad deve ser feita por cada um de nós: “A quem serve
o Graal?”, ou seja, “A quem serviria a plenitude interior?”
Todos procuramos algo e a grande busca da humanidade
se resume em uma única coisa: a busca da
Felicidade. A Felicidade significa que devemos servir-nos do Graal? Ao
pensarmos assim, lembremo-nos de que “o Graal serve ao Rei do Graal”.
É necessário assumir que o Graal não tenciona nos
servir, mas, sim, servir ao Divino. Dessa forma, o grande objetivo da vida, da plenitude interior, é buscar mais além
das realizações egoístas: buscar o
serviço impessoal. Ai se encontra a raiz da verdadeira Felicidade,
proporcionada pela plenitude e responde à pergunta anterior acerca de a quem
serve o Graal.
Assim, a pergunta que mais significado tem é: “Qual a minha função nesta vida?”, “Como
posso fazer para que esta vida tenha algum valor?”
A resposta a tais questões pode levar-nos a ver que
a Felicidade não significa a alegria plena por haver obtido realizações
egoístas, mas estarmos em harmonia
conosco mesmo. A Felicidade germina na dor que gera a luta para
conquistarmos a nós mesmos, para sermos o que realmente somos.
O Mito ensina-nos que somente no Castelo do Graal
podemos alcançar a plenitude, conhecer a perfeita Felicidade, a alegria de uma
satisfação absoluta. A isso nos lançamos de uma maneira quase selvagem, a fim
de reencontrar essa maravilha perdida, capaz de saciar nossa fome espiritual.
Isso encerra o grande significado da vida e o encontro do Graal. Todos somos parte de um mito inconcluso: o
mito de nossa própria existência. Cabe-nos escolher nosso próprio final.
A busca do misterioso reino do Graal (a Felicidade
proporcionada pela plenitude interior) é o segredo para esse final, é o
desígnio de todo homem na aventura da Alma. Nessa aventura, podemos escolher a
companhia de um escuro Mordred, assim como podemos refletir o Melhor Cavaleiro
do Mundo (Galahad).
Fazer essa escolha distingue o idealista – uma raça destinada a enaltecer a humanidade. Esses
idealistas são os mesmos cavaleiros que se sentaram ao redor da Távola Redonda,
próximos a Arthur, no salão principal da mítica Camelot. O mesmo ímpeto os
anima: a busca pelo conhecimento da
verdade, a plenitude interior.
Todos podemos ser as Damas e os Cavaleiros da
Sagrada Ordem. Todos podemos ser idealistas se sonharmos nos iluminar com esse
resplendor inextinguível.
BIBLIOGRAFIA
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José Olympio Editora. Rio de Janeiro. 2008.
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DIVERSOS, autores. Mitologia – Mitos e Lendas de todo o Mundo. Global Book Publishing.
Austrália. 2003.
3. ESCHENBACH,
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Livraria e Editora Esotérica. 1989.
4. GERENSTADT,
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5. JUNG,
Carl G.. O Homem e seus símbolos. Rio
de Janeiro. Nova Fronteira. 2008.
6. TABOADA,
Francisco Andrés. Excalibur e os
Mistérios Iniciáticos. Belo Horizonte. Edições Nova Acrópole. 2001.
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Óptimo texto! Parabéns
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