A Guerra da Arte - Casa de Euterpe
Este
texto tem origem no livro “A Guerra da Arte”, de Steven Pressfield, autor das
obras “Portões de Fogo” e “Tempos de Guerra”, entre outros.
Você
já quis se dedicar a uma causa social?
Já
abandonou uma dieta; um curso de yôga, uma prática de meditação?
Enfim,
já iniciou algo e não terminou? Ou simplesmente não iniciou?
Então
você sabe o que é Resistência.
A
Resistência é a força mais tóxica do planeta. Ceder à Resistência deforma nosso
espírito. Devemos considerá-la como um mal, pois nos impede de alcançar a vida
que Deus planejou para nós ao dotar cada ser humano de seu próprio e único
gênio criativo.
Por
mais forte que seja o chamado de nossa alma para a realização, igualmente
potentes são as forças da Resistência. Ela é mais rápida que uma bala, mais
poderosa do que uma locomotiva, mais difícil de renegar do que qualquer vício.
Aparece
nas mais variadas situações: na busca de uma vocação; em uma dieta; em
atividades físicas; em atividades de educação; em atos de coragem, ética ou
moral; na adoção de princípios diante da adversidade etc.. Em outras palavras: em
qualquer ato que rejeite a gratificação imediata em favor do conhecimento, da
saúde ou da integridade a longo prazo.
A
Resistência não tem força própria; sua força deriva-se inteiramente de nosso
medo.
1. Características da Resistência
A
Resistência é:
a)
invisível: não pode ser vista, tocada
ou percebida.
b)
interna:
surge em nosso interior; tem geração própria e perpetua a si mesma. A
Resistência é o inimigo interno;
c)
insidiosa:
nos dirá qualquer coisa para impedir-nos de fazer nosso trabalho;
d)
multiforme:
assumirá qualquer forma necessária para enganar-nos;
e)
implacável:
não é possível chamá-la à razão. É uma máquina de destruição, programada de
fábrica com um único objetivo: impedir-nos de realizar nosso trabalho;
f)
impessoal:
é uma força da natureza. Age objetivamente sem saber quem somos;
g)
infalível:
sempre apontará para a nossa vocação. Quanto mais importante uma vocação ou
ação for para a evolução de nossa alma, mais Resistência sentiremos em
persegui-la;
h)
universal:
tudo que tem corpo sofre Resistência;
i) nunca
dorme: o medo não nos abandona. O guerreiro e o artista vivem
pelo mesmo código de necessidade, que dita que a batalha tem de ser travada a
cada novo dia;
j) joga
para ganhar: seu objetivo não é ferir ou aleijar. Sua
intenção é matar. Seu alvo é o epicentro de nosso Ser: nosso gênio criativo,
nosso dom único e inestimável. Ao combatê-la travamos uma guerra contra a
morte;
k)
alimenta-se
do medo: não tem força própria. Cada gota de sua seiva vem
de nós. Nós lhe damos força com o nosso medo. Domine o medo e vencerá a Resistência;
l)
atua
em uma única direção: obstrui a ação apenas de uma esfera
inferior para uma esfera superior;
m)
é
mais forte na reta final: o perigo é maior quando a reta de
chegada está à vista;
n)
recruta
aliados:é auto-sabotagem; mas existe o perigo da sabotagem
cometida por outros. As pessoas ao seu redor começam a agir de modo estranho
quando você decide tornar-se quem é.
2. Sintomas
a)
procrastinação:
não dizemos “não vou fazer tal coisa. Dizemos “vou fazer tal coisa, mas vou
começar amanhã”. O pior aspecto da procrastinação é que pode se tornar um
habito. Neste exato momento (agora), podemos mudar nossas vidas. Nunca houve um
momento e nem nunca haverá em que não tenhamos o poder de alterar nosso destino;
b)
sexo:
as vezes a Resistência assume a forma de sexo ou de uma preocupação obsessiva
com sexo. Ele proporciona uma gratificação forte e imediata e a sensação de que
somos amados e aprovados. Isso aplica-se a drogas, compras compulsivas, TV,
bisbilhotice, álcool etc.;
c)
problemas:
os problemas são uma forma canhestra de fama. Qualquer coisa que chame a
atenção por meios indolores ou artificiais é uma manifestação da Resistência. A
pessoa ativa bane de seu mundo toda forma de problemas. Ela domina sua
necessidade de confusão e a transforma em trabalho;
d)
dramatização:
criar um melodrama em nossas vidas é um sintoma de Resistência. Famílias
inteiras participam da cultura da dramatização. E funciona: ninguém realiza
absolutamente nada;
e)
automedicação:
você regularmente ingere qualquer substância, controlada ou não, cujo objetivo
é aliviar a depressão, a ansiedade etc.? Tais coisas podem ser reais, mas é
mais provável que sejam sintomas da Resistência. Ao invés de aplicar o
autoconhecimento, a autodisciplina, a gratificação protelada e o trabalho
árduo, nós simplesmente consumimos um produto;
f)
vitimização:
a aquisição de uma condição empresta significado à existência de uma pessoa
(uma doença, uma cruz a carregar... ). Fazer-se de vítima é a antítese de
realizar o seu trabalho. Não o faça;
g)
escolha
de um parceiro: escolhemos parceiros que estão
vencendo a Resistência quando nós mesmos não o fazemos. Ou somos aquele que
apoiamos o outro a vencê-la. Devemos deixar nossa própria luz brilhar.
h)
infelicidade:
sentimo-nos muito mal. A Resistência avoluma-se a um grau insuportável. Surgem
os vícios: drogas, adultério, navegação na Internet etc. Além desse ponto, a
Resistência torna-se clínica: depressão, agressão, disfunção, o verdadeiro
crime e autodestruição física. Devemos realizar uma revolução interna e
particular no interior de nosso crânio: derrubar a programação da propaganda,
filmes, videogames, revistas, pelos quais somos hipnotizados desde o
nascimento. Nunca curaremos nossa infelicidade enquanto contribuirmos para o
lucro da Empulhação S.A.;
i)
fundamentalismo:
perguntamos sempre “quem sou eu”? “porque estou aqui?”, “qual o sentido da
vida?”. Não são questões fáceis porque o ser humano não foi projetado para
funcionar como um indivíduo. Não sabemos como é viver sozinhos. Não sabemos ser
indivíduos livres. O fundamentalismo é a filosofia dos fracos, dos
conquistados, dos desajustados e dos desprovidos. Ele não consegue suportar a
liberdade; regride para o passado. Para combater a Resistência, o
fundamentalista mergulha na ação ou no estudo de texto sagrado, esperando
retornar a um mundo mais puro de onde ele e todos os demais vieram. Contrário a
isso, o humanista acredita que a humanidade é chamada a cooperar com Deus na
criação do mundo;
j)
crítica:
se você se vir criticando outras pessoas, provavelmente estará agindo assim por
Resistência. Quem se sente realizado em sua vida quase nunca critica os outros;
k)
falta
de confiança em si: pode ser uma aliada. Serve como
indicador de aspiração: serei realmente um... ? Em demasia, reflete a
Resistência;
l)
medo:
o medo é bom. Como a falta de confiança em si próprio, o medo é um indicador. O
medo nos diz o que devemos fazer. A Resistência é experimentada na forma de
medo; o grau de medo é igual à força da Resistência. Quanto mais medo sentirmos
acerca de um determinado empreendimento, mais certos podemos estar de que o
empreendimento é importante para nós e para o crescimento de nosso espírito;
m)
amor:
a Resistência é diretamente proporcional ao amor. Quanto mais Resistência você
sentir, mais importante a arte, o projeto, o empreendimento é para nós – e mais
gratificação sentiremos quando a realizarmos. Se não amassemos o projeto que
está nos apavorando, não sentiríamos nada;
n)
ser
uma estrela: fantasias de grandeza são uma das
formas da Resistência. O profissional já aprendeu que o sucesso, como a
felicidade, advém como um subproduto do trabalho;
o)
isolamento:
as vezes deixamos de nos lançar em um empreendimento porque temos medo de ficar
sozinhos. Nunca estamos sozinhos. Nossa Musa pousa em nosso ombro como uma
borboleta. Quando perseguimos nosso trabalho, não temos consciência de tempo ou
solidão;
p)
cura:
o conceito de que a pessoa tem de completar uma cura para realizar sua obra é
uma forma de Resistência. A parte de nós que acha que precisa de cura não é a
parte com a qual agimos. A parte com a qual criamos, agimos não pode ser tocada
por nada que nossos pais tenham feito ou que a sociedade tenha feito. Quanto
mais problemas tivermos, melhor e mais rica essa parte se tornará. A verdadeira
cura não tem nada a ver com a realização de nosso trabalho e pode ser um
exercício colossal de Resistência. Ela adora a “cura”, pois sabe que quanto
mais energia psíquica gastarmos remoendo as cansativas e as aborrecidas
injustiças de nossa vida pessoal, menos tutano teremos para realizar nosso
trabalho;
q)
apoio:
oficinas de trabalho são faculdades de Resistência. Qualquer apoio que
obtenhamos de pessoas de carne e osso é como dinheiro do Banco Imobiliário; não
é moeda legal naquela esfera onde temos de realizar nosso trabalho. Na verdade,
quanto mais energia despendemos buscando o apoio de colegas e entes queridos,
mais fracos nos tornamos e menos capazes de administrar nossa tarefa;
r)
racionalização:
é o braço direito da Resistência. Resistência é medo, mas é astuta para
mostrar-se assim. Por isso, aparece a racionalização que nos apresenta uma
série de justificativas plausíveis, racionais, para não fazermos nosso
trabalho.
3. Combatendo a Resistência
Derrotar
a Resistência é como dar à luz.
Para
vencê-la é necessário pensar como profissional e não como amador. Como um
profissional com um ideal:
Profissional
|
Amador
|
Joga
para valer
|
Joga
por diversão
|
O
jogo é sua vocação
|
O jogo é seu
passatempo
|
Joga
em tempo integral
|
Joga
em tempo parcial
|
Guerreiro
durante os sete dias da semana
|
Guerreio de fim de
semana
|
Ama
tanto sua vocação que lhe dedica sua vida
|
Não
dedica sua vida à sua vocação
|
Compromete-se
integralmente
|
Compromete-se
parcialmente
|
O
profissional tem profunda consciência do Princípio de Prioridade que determina:
a) você deve saber a diferença entre o que é urgente e o que é importante e b)
deve fazer o que é importante primeiro.
Quais
as características de um
profissional? Ei-las:
a)
paciência:
o profissional arma-se de paciência não só para dar aos astros tempo para se
alinharem em sua carreira, como para impedir que sua chama seja consumida a
cada trabalho individual. Poupa sua energia e prepara a mente para um trajeto
longo;
b)
busca
a ordem: não tolera a desordem. Elimina o caos de seu mundo
a fim de bani-lo de sua mente;
c)
desmistifica:
vê seu trabalho como um oficio e não como uma arte. Domina o como e deixa o quê
e o porquê para os deuses;
d)
reage:
sabe que o medo jamais pode ser superado; que não existe guerreiro ou artista
sem medo. Apesar dele, entra em ação;
e)
não
aceita desculpas: o amador permite que a gripe o afaste
de seu trabalho. o profissional sabe que se ceder hoje, por mais plausível que
seja o pretexto, é duplamente provável que cederá amanhã;
f)
enfrenta
as condições com que se depara: o profissional conduz
seus negócios no mundo real. Adversidade, injustiça; golpes de azar e jogadas
infelizes, até boas oportunidades e golpes de sorte, tudo faz parte do terreno
no qual a batalha tem de ser travada. O campo só é uniforme no céu;
g)
é
preparado: está preparado todos os dias para confrontar sua
própria auto-sabotagem. Sua meta não é a vitória, mas administrar seu íntimo
com tanta firmeza e determinação quanto possível;
h)
não
se exibe: não deixa que sua assinatura seja motivo de
ostentação;
i)
dedica-se
a dominar a técnica: respeita seu oficio. Reconhece as
contribuições daqueles que o antecederam e aprende com eles;
j)
não
hesita em pedir ajuda: sabe que não sabe tudo;
k)
se
distancia de seu instrumento: o profissional
mantém-se a um passo de seu instrumento, ou seja, de sua pessoa, seu corpo, sua
voz, seu talento; o ser físico, mental e psicológico que usa seu trabalho. Ele identifica-se
com sua consciência e com sua vontade, não com a matéria que sua consciência e
sua vontade manipulam para servir à arte;
l)
não
leva o fracasso (ou o sucesso) para o lado pessoal:
sua determinação se mantém acima de tudo: haja o que houver, nunca deixa a
Resistência derrotá-lo;
m)
suporta
a adversidade: o profissional suporta a adversidade.
Nada pode feri-lo, a não ser que ele permita;
n)
homologa
a si próprio: o profissional não pode permitir que
as ações de outros definam sua realidade. Comparece ao trabalho pronto para
servir aos deuses. A Resistência quer que renunciemos à nossa soberania para
cedê-la aos outros. O profissional não dá atenção às críticas;
o)
reconhece
suas limitações: sabe que só pode ser profissional em uma
atividade;
p)
reinventa
a si próprio: o profissional não se permite ficar
preso dentro de uma encarnação, por mais bem-sucedida ou confortável que seja.
Como uma alma reencarnada, ele livra-se de um invólucro gasto e reveste-se de
um novo. Ele continua sua jornada;
q)
é
reconhecido por outro profissionais: percebe quem cumpriu
sua missão e quem não o fez.
Não há nenhum mistério em se tornar
um profissional. É uma decisão levada a cabo por um ato de vontade. Nós tomamos
a decisão de ver a nós mesmos como profissionais e o fazemos.
4. Além da Resistência
Forças
psíquicas e invisíveis nos apóiam em nossa jornada para nós mesmos. Há forças
que podemos considerar nossas aliadas. Assim como a Resistência trabalha para
nos impedir de nos transformarmos naquilo que nascemos para ser, forças iguais
e contrárias contrapõem-se a ela. São nossos aliados e anjos.
Quando
nos tornamos profissionais é iniciado um processo pelo qual, inevitável e
infalivelmente, o céu acorre em nossa ajuda. A Resistência localiza-se no
inferno, a Criação reside no céu. Profissionalismo é a atitude caracterizada
pelo serviço e ausência do ego.
Nossos
ancestrais eram profundamente cônscios das forças e das energias que não
pertencem a esta esfera material, mas a outra mais elevada e mais misteriosa.
Antes de iniciarmos nosso trabalho devemos prestar homenagem a essa Força
oculta que pode nos ajudar ou destruir.
Quando
concebemos um empreendimento e nos comprometemos com ele a despeito de nossos
temores, algo maravilhoso acontece. Anjos-parteiras reúnem-se ao nosso redor;
ajudam-nos conforme damos à luz a nós mesmos, àquela pessoa que nascemos para
ser, àquela cujo destino estava codificado em nossa alma, nosso espírito, nosso
gênio. Goethe dizia “o que quer que possa
fazer, ou sonha fazer, comece. A ousadia encerra em si mesma genialidade, magia
e poder. Comece agora.”
Quando
agimos, alguma forma de inteligência atua conosco, independente de nossa mente
consciente, mas em aliança com ela, processando nosso material para nós e
juntamente conosco.
O
Ego, segundo Jung, é a parte de nossa psique que consideramos “nós mesmos”.
Nossa inteligência consciente. Nosso cérebro comum que pensa, planeja e comanda
o espetáculo de nossa vida diária. É a parte de nossa psique que acredita na
existência material. Sua função é cuidar dos negócios no mundo real. É uma
função importante, sem a qual não sobreviveríamos. Mas há outros mundos além do
mundo real e é ai que o Ego enfrenta dificuldades.
Nesses
outros mundos reside o Self. O Self (Eu), como Jung o definiu, é uma entidade
maior, que inclui o Ego, mas também incorpora o Inconsciente Individual e o
Inconsciente Coletivo. Sonhos e intuições vêm do Self. Os arquétipos do
inconsciente residem nele. É, segundo Jung, a esfera da alma.
Quando
mudamos nossa esfera de consciência do Ego para o Self o mundo é inteiramente
novo.
Assim,
as forças de nossa psique de conhecemos como os anjos ou as musas residem no
Self e a Resistência reside no Ego. A luta se dá entre os dois, pois eles
acreditam em coisas diferentes:
Ego
|
Self
|
A
morte é real
|
A
morte é uma ilusão
|
O
tempo e o espaço são reais
|
O
tempo e o espaço são ilusões
|
Todo
indivíduo é diferente e independente do outro
|
Todos
os seres são apenas um
|
O
impulso predominante da vida é a autopreservação
|
A
suprema emoção é o amor
|
Deus
não existe
|
Existe
apenas Deus
|
Para
acessar o Self, temos de demolir o Ego. O Self é nosso ser mais profundo e está
unido a Deus. O Self está sempre crescendo e evoluindo. Ele fala para o futuro.
O
Ego odeia o Self porque quando colocamos nossa consciência no Eu, liquidamos o
Ego. O instinto que nos empurra para a criação, para a realização de nós mesmos
é o impulso para evoluir, para aprender, para aperfeiçoar e elevar nossa
consciência. O Ego o detesta. Porque quanto mais despertos nos tornamos, menos
precisamos do Ego. Tal evolução é ameaçadora para o Ego. Ele reage à altura.
Usa sua astúcia e prepara suas forças.
O Ego produz a Resistência e
ataca-nos.
A Resistência se alimenta do medo.
Nós experimentamos a Resistência quando sentimos medo. Mas medo de quê?
De
várias coisas: de seguir nosso coração; da falência; da pobreza; de sermos
egoístas; de não conseguir sustentar nossas famílias; de trair nossos
semelhantes; do fracasso; do ridículo; da loucura; da insanidade; da morte.
São
todos medos sérios, mas não são o medo real. Não são o Grande Medo. Esse grande medo é o de que sejamos
bem-sucedidos. Essa é a perspectiva mais terrível que um ser humano pode
enfrentar, porque o expele, de um golpe só (ele imagina) de todas as inclusões
tribais para as quais sua psique está programada e tem estado por cinqüenta
milhões de anos. Tememos porque, se for verdade, seremos afastados de tudo que
conhecemos. Sabemos que se abraçarmos nosso ideal, teremos de nos mostrar
dignos dele.
Não
é isso o que acontece. Não acabaremos sozinhos. Acabamos no espaço, mas não
sozinhos. Somos capturados em uma insaciável, inesgotável, inexaurível fonte de
sabedoria, consciência e companheirismo.
Ora,
ao abraçarmos nosso ideal temos de considerar a questão: não nascemos com
escolhas ilimitadas. Não podemos ser qualquer coisa que queiramos ser. Vimos a este mundo com um destino pessoal e
específico. Temos um trabalho a fazer, uma vocação a exercer, um eu a se
tornar. Somos quem somos desde o berço e estamos presos a isso.
5. Formas de se relacionar com o mundo
Há
duas formar pelas quais os indivíduos se orientam: a hierárquica e a territorial.
A
maioria de nós se define pela hierarquia
e nem sequer o sabe. Tudo nos leva a isso: a cultura do materialismo, a
propaganda. Surge automaticamente quando somos crianças. Naturalmente nos
reunimos em bandos e facções. Nós nos definimos instintivamente pela nossa
posição dentro da escola, da gangue, do clube. É a chamada pecking order (ordem das galinhas ciscarem).
Ocorre
que quando o número de indivíduos é muito grande, esse sistema desmorona. A pecking order só pode abranger um
determinado número de aves. Estamos na Sociedade de Massa e a hierarquia é
grande demais. Já não funciona.
Para
o criador, para aquele que constrói a si mesmo, definir-se hierarquicamente é
fatal, pois irá competir contra todos os outros, avaliará sua felicidade pelo
seu nível dentro da hierarquia, agirá em relação aos outros com base em seu
nível hierárquico e avaliará cada movimento próprio unicamente pelo efeito que
produz nos outros.
Ora,
o criador não pode buscar nos outros a aprovação de seus esforços ou vocação.
Por isso, ele tem de agir territorialmente.
Tem de fazer seu trabalho pelo próprio trabalho.
Na
hierarquia, olhamos para cima e para baixo. O único lugar para onde não
conseguimos olhar é exatamente para onde deveríamos: para dentro de nós mesmos.
Todos
nós temos territórios. Diferente dos animais, os nossos são psicológicos. O território do Steve
Wonder é o piano. O de Bill Gates, a Microsoft.
O
território tem as seguintes qualidades:
a)
proporciona sustento;
b)
nos sustenta sem nenhuma fonte de
alimentação externa;
c)
só pode ser reclamado por alguém
sozinho;
d)
só pode ser reclamado com trabalho: um
território não dá, ele devolve;
e)
devolve exatamente o que investimos
nele: são justos.
Qual é o seu território?
Quando
trabalhamos territorialmente, reverenciamos o céu. Ao realizarmos nosso
trabalho pelo próprio trabalho, colocamo-nos a serviços das forças misteriosas
que movem o universo.
Para
podermos saber se nossa orientação é territorial ou hierárquica devemos
perguntar a nós mesmos: se eu me sentisse muito ansioso, o que faria?
Se
pegarmos o telefone e ligarmos para seis amigos, um após o outro, com o
objetivo de ouvir suas vozes e nos assegurarmos de que ainda nos amam,
estaremos agindo hierarquicamente.
Se,
ao invés disso, voltarmo-nos para o nosso trabalho nossa orientação é
territorial. Ainda que Steve Wonder fosse o último homem da terra, ainda assim
ele tocaria piano.
Ao
agirmos territorialmente, obtemos sustento da atividade em si e não da
impressão que causam sobre os outros.
Quando
Krishna instruiu Arjuna de que temos direito ao nosso trabalho, mas não aos
frutos de nosso trabalho, aconselhava o guerreiro a agir territorialmente, não
hierarquicamente.
Temos
de realizar nosso trabalho por ele mesmo, não pela fortuna, atenções ou
aplausos que possa nos angariar. Depois, existe o terceiro modo proferido pelo
Lorde da Disciplina, que está além da hierarquia e do território. É fazer o trabalho e entregar a Ele. Doá-lo
como uma oferenda a Deus.
Agindo
como um profissional, de forma territorial, conseguiremos enfrentar a Resistência
e, dessa forma, despertando as musas residentes no Self, seremos,
indubitavelmente, o que nascemos para Ser!
Bibliografia
Pressfield,
Steven. A Guerra da Arte – Supere os
Bloqueios e Vença sua Batalhas Interiores de Criatividade. Ediouro. Rio de
Janeiro. 2005.
#casadeeuterpe #aguerradaarte #stevenpressfield #resistência #vitoria
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