A Guerra da Arte - Casa de Euterpe

Art by Tomasz Alen Kopera
Introdução:
Este texto tem origem no livro “A Guerra da Arte”, de Steven Pressfield, autor das obras “Portões de Fogo” e “Tempos de Guerra”, entre outros.
Você já quis se dedicar a uma causa social?
Já abandonou uma dieta; um curso de yôga, uma prática de meditação?
Enfim, já iniciou algo e não terminou? Ou simplesmente não iniciou?
Então você sabe o que é Resistência.
A Resistência é a força mais tóxica do planeta. Ceder à Resistência deforma nosso espírito. Devemos considerá-la como um mal, pois nos impede de alcançar a vida que Deus planejou para nós ao dotar cada ser humano de seu próprio e único gênio criativo.
Por mais forte que seja o chamado de nossa alma para a realização, igualmente potentes são as forças da Resistência. Ela é mais rápida que uma bala, mais poderosa do que uma locomotiva, mais difícil de renegar do que qualquer vício.
Aparece nas mais variadas situações: na busca de uma vocação; em uma dieta; em atividades físicas; em atividades de educação; em atos de coragem, ética ou moral; na adoção de princípios diante da adversidade etc.. Em outras palavras: em qualquer ato que rejeite a gratificação imediata em favor do conhecimento, da saúde ou da integridade a longo prazo.
A Resistência não tem força própria; sua força deriva-se inteiramente de nosso medo.
1.     Características da Resistência
A Resistência é:
a)      invisível: não pode ser vista, tocada ou percebida.
b)    interna: surge em nosso interior; tem geração própria e perpetua a si mesma. A Resistência é o inimigo interno;
c)     insidiosa: nos dirá qualquer coisa para impedir-nos de fazer nosso trabalho;
d)    multiforme: assumirá qualquer forma necessária para enganar-nos;
e)     implacável: não é possível chamá-la à razão. É uma máquina de destruição, programada de fábrica com um único objetivo: impedir-nos de realizar nosso trabalho;
f)      impessoal: é uma força da natureza. Age objetivamente sem saber quem somos;
g)     infalível: sempre apontará para a nossa vocação. Quanto mais importante uma vocação ou ação for para a evolução de nossa alma, mais Resistência sentiremos em persegui-la;
h)    universal: tudo que tem corpo sofre Resistência;
i)     nunca dorme: o medo não nos abandona. O guerreiro e o artista vivem pelo mesmo código de necessidade, que dita que a batalha tem de ser travada a cada novo dia;
j)     joga para ganhar: seu objetivo não é ferir ou aleijar. Sua intenção é matar. Seu alvo é o epicentro de nosso Ser: nosso gênio criativo, nosso dom único e inestimável. Ao combatê-la travamos uma guerra contra a morte;
k)    alimenta-se do medo: não tem força própria. Cada gota de sua seiva vem de nós. Nós lhe damos força com o nosso medo. Domine o medo e vencerá a Resistência;
l)       atua em uma única direção: obstrui a ação apenas de uma esfera inferior para uma esfera superior;
m)  é mais forte na reta final: o perigo é maior quando a reta de chegada está à vista;
n)    recruta aliados:é auto-sabotagem; mas existe o perigo da sabotagem cometida por outros. As pessoas ao seu redor começam a agir de modo estranho quando você decide tornar-se quem é.
2.     Sintomas
a)     procrastinação: não dizemos “não vou fazer tal coisa. Dizemos “vou fazer tal coisa, mas vou começar amanhã”. O pior aspecto da procrastinação é que pode se tornar um habito. Neste exato momento (agora), podemos mudar nossas vidas. Nunca houve um momento e nem nunca haverá em que não tenhamos o poder de alterar nosso destino;
b)    sexo: as vezes a Resistência assume a forma de sexo ou de uma preocupação obsessiva com sexo. Ele proporciona uma gratificação forte e imediata e a sensação de que somos amados e aprovados. Isso aplica-se a drogas, compras compulsivas, TV, bisbilhotice, álcool etc.;
c)     problemas: os problemas são uma forma canhestra de fama. Qualquer coisa que chame a atenção por meios indolores ou artificiais é uma manifestação da Resistência. A pessoa ativa bane de seu mundo toda forma de problemas. Ela domina sua necessidade de confusão e a transforma em trabalho;
d)    dramatização: criar um melodrama em nossas vidas é um sintoma de Resistência. Famílias inteiras participam da cultura da dramatização. E funciona: ninguém realiza absolutamente nada;
e)     automedicação: você regularmente ingere qualquer substância, controlada ou não, cujo objetivo é aliviar a depressão, a ansiedade etc.? Tais coisas podem ser reais, mas é mais provável que sejam sintomas da Resistência. Ao invés de aplicar o autoconhecimento, a autodisciplina, a gratificação protelada e o trabalho árduo, nós simplesmente consumimos um produto;
f)      vitimização: a aquisição de uma condição empresta significado à existência de uma pessoa (uma doença, uma cruz a carregar... ). Fazer-se de vítima é a antítese de realizar o seu trabalho. Não o faça;
g)     escolha de um parceiro: escolhemos parceiros que estão vencendo a Resistência quando nós mesmos não o fazemos. Ou somos aquele que apoiamos o outro a vencê-la. Devemos deixar nossa própria luz brilhar.
h)    infelicidade: sentimo-nos muito mal. A Resistência avoluma-se a um grau insuportável. Surgem os vícios: drogas, adultério, navegação na Internet etc. Além desse ponto, a Resistência torna-se clínica: depressão, agressão, disfunção, o verdadeiro crime e autodestruição física. Devemos realizar uma revolução interna e particular no interior de nosso crânio: derrubar a programação da propaganda, filmes, videogames, revistas, pelos quais somos hipnotizados desde o nascimento. Nunca curaremos nossa infelicidade enquanto contribuirmos para o lucro da Empulhação S.A.;
i)       fundamentalismo: perguntamos sempre “quem sou eu”? “porque estou aqui?”, “qual o sentido da vida?”. Não são questões fáceis porque o ser humano não foi projetado para funcionar como um indivíduo. Não sabemos como é viver sozinhos. Não sabemos ser indivíduos livres. O fundamentalismo é a filosofia dos fracos, dos conquistados, dos desajustados e dos desprovidos. Ele não consegue suportar a liberdade; regride para o passado. Para combater a Resistência, o fundamentalista mergulha na ação ou no estudo de texto sagrado, esperando retornar a um mundo mais puro de onde ele e todos os demais vieram. Contrário a isso, o humanista acredita que a humanidade é chamada a cooperar com Deus na criação do mundo;
j)       crítica: se você se vir criticando outras pessoas, provavelmente estará agindo assim por Resistência. Quem se sente realizado em sua vida quase nunca critica os outros;
k)    falta de confiança em si: pode ser uma aliada. Serve como indicador de aspiração: serei realmente um... ? Em demasia, reflete a Resistência;
l)       medo: o medo é bom. Como a falta de confiança em si próprio, o medo é um indicador. O medo nos diz o que devemos fazer. A Resistência é experimentada na forma de medo; o grau de medo é igual à força da Resistência. Quanto mais medo sentirmos acerca de um determinado empreendimento, mais certos podemos estar de que o empreendimento é importante para nós e para o crescimento de nosso espírito;
m)  amor: a Resistência é diretamente proporcional ao amor. Quanto mais Resistência você sentir, mais importante a arte, o projeto, o empreendimento é para nós – e mais gratificação sentiremos quando a realizarmos. Se não amassemos o projeto que está nos apavorando, não sentiríamos nada;
n)    ser uma estrela: fantasias de grandeza são uma das formas da Resistência. O profissional já aprendeu que o sucesso, como a felicidade, advém como um subproduto do trabalho;
o)    isolamento: as vezes deixamos de nos lançar em um empreendimento porque temos medo de ficar sozinhos. Nunca estamos sozinhos. Nossa Musa pousa em nosso ombro como uma borboleta. Quando perseguimos nosso trabalho, não temos consciência de tempo ou solidão;
p)    cura: o conceito de que a pessoa tem de completar uma cura para realizar sua obra é uma forma de Resistência. A parte de nós que acha que precisa de cura não é a parte com a qual agimos. A parte com a qual criamos, agimos não pode ser tocada por nada que nossos pais tenham feito ou que a sociedade tenha feito. Quanto mais problemas tivermos, melhor e mais rica essa parte se tornará. A verdadeira cura não tem nada a ver com a realização de nosso trabalho e pode ser um exercício colossal de Resistência. Ela adora a “cura”, pois sabe que quanto mais energia psíquica gastarmos remoendo as cansativas e as aborrecidas injustiças de nossa vida pessoal, menos tutano teremos para realizar nosso trabalho;
q)    apoio: oficinas de trabalho são faculdades de Resistência. Qualquer apoio que obtenhamos de pessoas de carne e osso é como dinheiro do Banco Imobiliário; não é moeda legal naquela esfera onde temos de realizar nosso trabalho. Na verdade, quanto mais energia despendemos buscando o apoio de colegas e entes queridos, mais fracos nos tornamos e menos capazes de administrar nossa tarefa;
r)      racionalização: é o braço direito da Resistência. Resistência é medo, mas é astuta para mostrar-se assim. Por isso, aparece a racionalização que nos apresenta uma série de justificativas plausíveis, racionais, para não fazermos nosso trabalho.
3.     Combatendo a Resistência
Derrotar a Resistência é como dar à luz.
Para vencê-la é necessário pensar como profissional e não como amador. Como um profissional com um ideal:
Profissional
Amador
Joga para valer
Joga por diversão
O jogo é sua vocação
O jogo é seu passatempo
Joga em tempo integral
Joga em tempo parcial
Guerreiro durante os sete dias da semana
Guerreio de fim de semana
Ama tanto sua vocação que lhe dedica sua vida
Não dedica sua vida à sua vocação
Compromete-se integralmente
Compromete-se parcialmente
O profissional tem profunda consciência do Princípio de Prioridade que determina: a) você deve saber a diferença entre o que é urgente e o que é importante e b) deve fazer o que é importante primeiro.
Quais as características de um profissional? Ei-las:
a)     paciência: o profissional arma-se de paciência não só para dar aos astros tempo para se alinharem em sua carreira, como para impedir que sua chama seja consumida a cada trabalho individual. Poupa sua energia e prepara a mente para um trajeto longo;
b)    busca a ordem: não tolera a desordem. Elimina o caos de seu mundo a fim de bani-lo de sua mente;
c)     desmistifica: vê seu trabalho como um oficio e não como uma arte. Domina o como e deixa o quê e o porquê para os deuses;
d)    reage: sabe que o medo jamais pode ser superado; que não existe guerreiro ou artista sem medo. Apesar dele, entra em ação;
e)     não aceita desculpas: o amador permite que a gripe o afaste de seu trabalho. o profissional sabe que se ceder hoje, por mais plausível que seja o pretexto, é duplamente provável que cederá amanhã;
f)      enfrenta as condições com que se depara: o profissional conduz seus negócios no mundo real. Adversidade, injustiça; golpes de azar e jogadas infelizes, até boas oportunidades e golpes de sorte, tudo faz parte do terreno no qual a batalha tem de ser travada. O campo só é uniforme no céu;
g)     é preparado: está preparado todos os dias para confrontar sua própria auto-sabotagem. Sua meta não é a vitória, mas administrar seu íntimo com tanta firmeza e determinação quanto possível;
h)    não se exibe: não deixa que sua assinatura seja motivo de ostentação;
i)       dedica-se a dominar a técnica: respeita seu oficio. Reconhece as contribuições daqueles que o antecederam e aprende com eles;
j)       não hesita em pedir ajuda: sabe que não sabe tudo;
k)    se distancia de seu instrumento: o profissional mantém-se a um passo de seu instrumento, ou seja, de sua pessoa, seu corpo, sua voz, seu talento; o ser físico, mental e psicológico que usa seu trabalho. Ele identifica-se com sua consciência e com sua vontade, não com a matéria que sua consciência e sua vontade manipulam para servir à arte;
l)       não leva o fracasso (ou o sucesso) para o lado pessoal: sua determinação se mantém acima de tudo: haja o que houver, nunca deixa a Resistência derrotá-lo;
m)  suporta a adversidade: o profissional suporta a adversidade. Nada pode feri-lo, a não ser que ele permita;
n)    homologa a si próprio: o profissional não pode permitir que as ações de outros definam sua realidade. Comparece ao trabalho pronto para servir aos deuses. A Resistência quer que renunciemos à nossa soberania para cedê-la aos outros. O profissional não dá atenção às críticas;
o)    reconhece suas limitações: sabe que só pode ser profissional em uma atividade;
p)    reinventa a si próprio: o profissional não se permite ficar preso dentro de uma encarnação, por mais bem-sucedida ou confortável que seja. Como uma alma reencarnada, ele livra-se de um invólucro gasto e reveste-se de um novo. Ele continua sua jornada;
q)    é reconhecido por outro profissionais: percebe quem cumpriu sua missão e quem não o fez.
Não há nenhum mistério em se tornar um profissional. É uma decisão levada a cabo por um ato de vontade. Nós tomamos a decisão de ver a nós mesmos como profissionais e o fazemos.
4.     Além da Resistência
Forças psíquicas e invisíveis nos apóiam em nossa jornada para nós mesmos. Há forças que podemos considerar nossas aliadas. Assim como a Resistência trabalha para nos impedir de nos transformarmos naquilo que nascemos para ser, forças iguais e contrárias contrapõem-se a ela. São nossos aliados e anjos.
Quando nos tornamos profissionais é iniciado um processo pelo qual, inevitável e infalivelmente, o céu acorre em nossa ajuda. A Resistência localiza-se no inferno, a Criação reside no céu. Profissionalismo é a atitude caracterizada pelo serviço e ausência do ego.
Nossos ancestrais eram profundamente cônscios das forças e das energias que não pertencem a esta esfera material, mas a outra mais elevada e mais misteriosa. Antes de iniciarmos nosso trabalho devemos prestar homenagem a essa Força oculta que pode nos ajudar ou destruir.
Quando concebemos um empreendimento e nos comprometemos com ele a despeito de nossos temores, algo maravilhoso acontece. Anjos-parteiras reúnem-se ao nosso redor; ajudam-nos conforme damos à luz a nós mesmos, àquela pessoa que nascemos para ser, àquela cujo destino estava codificado em nossa alma, nosso espírito, nosso gênio. Goethe dizia “o que quer que possa fazer, ou sonha fazer, comece. A ousadia encerra em si mesma genialidade, magia e poder. Comece agora.”
Quando agimos, alguma forma de inteligência atua conosco, independente de nossa mente consciente, mas em aliança com ela, processando nosso material para nós e juntamente conosco.
O Ego, segundo Jung, é a parte de nossa psique que consideramos “nós mesmos”. Nossa inteligência consciente. Nosso cérebro comum que pensa, planeja e comanda o espetáculo de nossa vida diária. É a parte de nossa psique que acredita na existência material. Sua função é cuidar dos negócios no mundo real. É uma função importante, sem a qual não sobreviveríamos. Mas há outros mundos além do mundo real e é ai que o Ego enfrenta dificuldades.
Nesses outros mundos reside o Self. O Self (Eu), como Jung o definiu, é uma entidade maior, que inclui o Ego, mas também incorpora o Inconsciente Individual e o Inconsciente Coletivo. Sonhos e intuições vêm do Self. Os arquétipos do inconsciente residem nele. É, segundo Jung, a esfera da alma.
Quando mudamos nossa esfera de consciência do Ego para o Self o mundo é inteiramente novo.
Assim, as forças de nossa psique de conhecemos como os anjos ou as musas residem no Self e a Resistência reside no Ego. A luta se dá entre os dois, pois eles acreditam em coisas diferentes:
Ego
Self
A morte é real
A morte é uma ilusão
O tempo e o espaço são reais
O tempo e o espaço são ilusões
Todo indivíduo é diferente e independente do outro
Todos os seres são apenas um
O impulso predominante da vida é a autopreservação
A suprema emoção é o amor
Deus não existe
Existe apenas Deus
Para acessar o Self, temos de demolir o Ego. O Self é nosso ser mais profundo e está unido a Deus. O Self está sempre crescendo e evoluindo. Ele fala para o futuro.
O Ego odeia o Self porque quando colocamos nossa consciência no Eu, liquidamos o Ego. O instinto que nos empurra para a criação, para a realização de nós mesmos é o impulso para evoluir, para aprender, para aperfeiçoar e elevar nossa consciência. O Ego o detesta. Porque quanto mais despertos nos tornamos, menos precisamos do Ego. Tal evolução é ameaçadora para o Ego. Ele reage à altura. Usa sua astúcia e prepara suas forças.
O Ego produz a Resistência e ataca-nos.
A Resistência se alimenta do medo. Nós experimentamos a Resistência quando sentimos medo. Mas medo de quê?
De várias coisas: de seguir nosso coração; da falência; da pobreza; de sermos egoístas; de não conseguir sustentar nossas famílias; de trair nossos semelhantes; do fracasso; do ridículo; da loucura; da insanidade; da morte.
São todos medos sérios, mas não são o medo real. Não são o Grande Medo. Esse grande medo é o de que sejamos bem-sucedidos. Essa é a perspectiva mais terrível que um ser humano pode enfrentar, porque o expele, de um golpe só (ele imagina) de todas as inclusões tribais para as quais sua psique está programada e tem estado por cinqüenta milhões de anos. Tememos porque, se for verdade, seremos afastados de tudo que conhecemos. Sabemos que se abraçarmos nosso ideal, teremos de nos mostrar dignos dele.
Não é isso o que acontece. Não acabaremos sozinhos. Acabamos no espaço, mas não sozinhos. Somos capturados em uma insaciável, inesgotável, inexaurível fonte de sabedoria, consciência e companheirismo.
Ora, ao abraçarmos nosso ideal temos de considerar a questão: não nascemos com escolhas ilimitadas. Não podemos ser qualquer coisa que queiramos ser. Vimos a este mundo com um destino pessoal e específico. Temos um trabalho a fazer, uma vocação a exercer, um eu a se tornar. Somos quem somos desde o berço e estamos presos a isso.
5.     Formas de se relacionar com o mundo
Há duas formar pelas quais os indivíduos se orientam: a hierárquica e a territorial.
A maioria de nós se define pela hierarquia e nem sequer o sabe. Tudo nos leva a isso: a cultura do materialismo, a propaganda. Surge automaticamente quando somos crianças. Naturalmente nos reunimos em bandos e facções. Nós nos definimos instintivamente pela nossa posição dentro da escola, da gangue, do clube. É a chamada pecking order (ordem das galinhas ciscarem).
Ocorre que quando o número de indivíduos é muito grande, esse sistema desmorona. A pecking order só pode abranger um determinado número de aves. Estamos na Sociedade de Massa e a hierarquia é grande demais. Já não funciona.
Para o criador, para aquele que constrói a si mesmo, definir-se hierarquicamente é fatal, pois irá competir contra todos os outros, avaliará sua felicidade pelo seu nível dentro da hierarquia, agirá em relação aos outros com base em seu nível hierárquico e avaliará cada movimento próprio unicamente pelo efeito que produz nos outros.
Ora, o criador não pode buscar nos outros a aprovação de seus esforços ou vocação. Por isso, ele tem de agir territorialmente. Tem de fazer seu trabalho pelo próprio trabalho.
Na hierarquia, olhamos para cima e para baixo. O único lugar para onde não conseguimos olhar é exatamente para onde deveríamos: para dentro de nós mesmos.
Todos nós temos territórios. Diferente dos animais, os nossos são psicológicos. O território do Steve Wonder é o piano. O de Bill Gates, a Microsoft.
O território tem as seguintes qualidades:
a)     proporciona sustento;
b)    nos sustenta sem nenhuma fonte de alimentação externa;
c)     só pode ser reclamado por alguém sozinho;
d)    só pode ser reclamado com trabalho: um território não dá, ele devolve;
e)     devolve exatamente o que investimos nele: são justos.
Qual é o seu território?
Quando trabalhamos territorialmente, reverenciamos o céu. Ao realizarmos nosso trabalho pelo próprio trabalho, colocamo-nos a serviços das forças misteriosas que movem o universo.
Para podermos saber se nossa orientação é territorial ou hierárquica devemos perguntar a nós mesmos: se eu me sentisse muito ansioso, o que faria?
Se pegarmos o telefone e ligarmos para seis amigos, um após o outro, com o objetivo de ouvir suas vozes e nos assegurarmos de que ainda nos amam, estaremos agindo hierarquicamente.
Se, ao invés disso, voltarmo-nos para o nosso trabalho nossa orientação é territorial. Ainda que Steve Wonder fosse o último homem da terra, ainda assim ele tocaria piano.
Ao agirmos territorialmente, obtemos sustento da atividade em si e não da impressão que causam sobre os outros.
Quando Krishna instruiu Arjuna de que temos direito ao nosso trabalho, mas não aos frutos de nosso trabalho, aconselhava o guerreiro a agir territorialmente, não hierarquicamente.
Temos de realizar nosso trabalho por ele mesmo, não pela fortuna, atenções ou aplausos que possa nos angariar. Depois, existe o terceiro modo proferido pelo Lorde da Disciplina, que está além da hierarquia e do território. É fazer o trabalho e entregar a Ele. Doá-lo como uma oferenda a Deus.
Agindo como um profissional, de forma territorial, conseguiremos enfrentar a Resistência e, dessa forma, despertando as musas residentes no Self, seremos, indubitavelmente, o que nascemos para Ser!
Bibliografia

Pressfield, Steven. A Guerra da Arte – Supere os Bloqueios e Vença sua Batalhas Interiores de Criatividade. Ediouro. Rio de Janeiro. 2005.

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