Os Doze Trabalhos de Hércules - Casa de Euterpe


Os Doze Trabalhos de Hércules, remete-nos à necessidade de abordarmos duas questões antes de iniciarmos o tema propriamente dito.

1. Mito

A primeira delas, referente ao significado do mito. O que é o mito? A mitologia? O símbolo?

No dizer de Francisco Andrés Taboada, estudar as antigas tradições é algo apaixonante, mas de modo algum se deve pensar que os deliciosos contos e lendas de heróis e fadas sejam apenas fantasias destinadas a alimentar a imaginação infantil. Há, em cada um deles, uma essência oculta, algo velado que porta um conhecimento.

A grande aventura é lançar-se em busca do enigma que subjaze no interior da lenda. Mas não se deve pensar que seja tarefa fácil extrair segredos do mais profundo abismo, aquilo que é enigma do símbolo.

Diz, ainda, o autor que é preciso estabelecer um diálogo com os mitos e as lendas. É preciso saber que desde o começo da investigação, eles permanecerão na mente do investigador de forma quase constante, o qual não deve privar-se desse acontecimento edificante e também vivificante.

Sempre, ante o velado, devemos assumir uma atitude de aceitação, caso contrário não receberemos nada. Assim, quando estamos diante de um símbolo que está submetido à nossa atenção, devemos ter estrito controle sobre nossa inteligência, pois ela sempre resiste a consentir a possibilidade de que esse símbolo nos esteja ensinando algo e assim pode fazer fracassar de maneira total nosso trabalho.

É a intuição criadora e não a inteligência que fará contato com aquilo que o símbolo quer expressar.

Cada símbolo contém algo vivo, um mistério que até nossos dias em grande medida foi ignorado. Por isso, para compreender o essencial do mito, primeiro deve se superar todo preconceito. Em cada obra, cada saga, em cada tradição podem-se ocultar algum elemento simbólico.

Disse o imperador Juliano “o que nos mitos se apresenta como inverossímil é precisamente aquilo que nos abre o caminho da Verdade. Efetivamente, quanto mais paradoxal e extraordinário é um enigma, mais parece advertir-nos para não confiar na palavra nua, mas a padecer em torno da Verdade oculta.”

Joseph Campbell escreve que os mitos ensinam que podemos nos voltar para dentro e, a partir desse retorno, começarmos a captar a mensagem dos símbolos. Diz, também, que mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana; são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano; abrem o mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que subjaze a todas as formas. Dessa forma, é importante que cada indivíduo encontre um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida.

Na obra Mitologia – Lendas e Mitos de Todo o Mundo, os autores destacam que “considerando que o mito é uma linguagem espiritual, se for corretamente decodificado, poderá abrir um universo a todos os que tenham ouvidos para escutar.”

Taboada, Campbell e demais obras citadas são corroborados pelo ensinamento de Helena P. Blavatsky (HPB).

Em Simbolismo e Ideografia, a autora insiste em que “nenhuma narrativa mitológica, nenhum acontecimento tradicional das lendas de um povo, em qualquer época, representou simples ficção, mas possui, cada qual, um fundo histórico verdadeiro.” Assim, firma o entendimento de que as tradições e as mitologias contêm verdades históricas e não são, conforme preconizam alguns mitólogos, tendências supersticiosas dos antigos.

HPB alerta, também, que, embora os mitos representem verdades históricas, os mesmos não devem ser interpretados literalmente. Destaca que, por exemplo, “aceitar a letra morta da Bíblia vale por incidir em um erro mais grosseiro e supersticioso que os já produzidos pelo cérebro de um selvagem das ilhas dos mares do Sul.” Assim, chama a atenção para o fato de que os símbolos, ao permearem os textos mitológicos, comportam várias interpretações e relacionam-se com diversas ciências.

Dessa feita, símbolos de vários países compreendem cada qual uma idéia ou uma série de idéias especiais, formando coletivamente um emblema esotérico. A história religiosa e esotérica de cada povo encontra-se entranhada nos símbolos, nunca expressa literalmente. Neste aspecto, até uma parábola é um símbolo falado: uma representação alegórica de realidades da vida, de acontecimentos e de fatos.

Ainda, HPB in Glossário Teosófico diz que “comumente se entende por mito uma fábula ou ficção alegórica, que encerra no fundo uma verdade geralmente de ordem espiritual, moral ou religiosa. (...) Os mitos têm um duplo significado. Muitos deles resultam em realidades e a maior parte não são invenções, mas transformações, pois têm como ponto de partida fatos reais. ‘Os mitos – diz atinadamente Pococke -, está provado agora, são fábulas na mesma proporção em que os compreendemos mal e são verdades na proporção em que eram compreendidos noutro tempo. Os mitos tiveram e têm ainda, para as massas populares, o valor de dogmas e realidades e constituem as bases das religiões exotéricas.’ (...) Para todo pensador é de suma importância examinar, com a maior atenção, os mitos sob todos os aspectos, aplicando-lhes cada uma das sete chaves, e descobrir as verdades transcendentais ocultas no fundo de tais ficções.”

Até o momento compreendemos que o mito constitui verdade histórica, que é permeado de símbolos. Ainda, que estes símbolos devem ser entendidos e interpretados de forma não literal e traz em si um enigma.

2. Herói


A segunda questão, a qual nos referimos a pouco, diz respeito ao herói. Quem é o Herói? O que ele busca? Qual o seu caminho?

Semanticamente, Herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Do grego ‘hrvV, do latim heros, o termo herói designa, originalmente, o protagonista de uma obra narrativa ou dramática.

Ainda, o Herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal (Hércules, Perseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, tem dimensão semidivina. Por causa dessa dimensão semidivina, ele é marcado por uma ambiguidade: por um lado, representa a condição humana, na sua complexidade psicológica, social e ética; por outro, transcende a mesma condição, na medida em que representa facetas e virtudes que o homem comum não consegue mas gostaria de atingir – fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência etc.

O Herói tem, principalmente, duas tarefas: a primeira consiste em retirar-se da cena mundana, de efeitos secundários e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique, onde residem efetivamente as dificuldades, para torná-las claras, erradicá-las em favor de si mesmo e penetrar no domínio da experiência da assimilação dessas dificuldades. O Herói, por conseguinte, é o homem ou a mulher que conseguiu vencer suas limitações.

Sua segunda tarefa é retornar ao nosso meio, transfigurado, e ensinar a lição de vida renovada que aprendeu. Assim, terminada a busca, o Herói deve retornar ao reino humano, onde a benção alcançada pode servir à renovação da comunidade, da nação, do planeta.

Joseph Campbell descreve essa jornada não apenas como um ato de coragem, mas, ainda, como uma vida vivida em termos de autodescoberta. O Herói, dessa forma, simboliza nossa capacidade de controlar o irracional dentro de nós pela superação de nossas paixões tenebrosas.

Porém, a jornada do herói não é meramente uma busca de seu auto-aperfeiçoamento. É uma tarefa em nome da comunidade para procurar seu bem-estar como um todo.

Dispostas as duas questões relativas ao mito e ao herói, podemos iniciar o tema de nossa palestra, propriamente dito.

Qual de nós não tomou conhecimento dos Trabalhos de Hércules por meio da literatura, dos filmes? Todavia, será que em algum momento conseguimos decodificar o simbolismo ali contido? Será que conseguimos entrever que essas aventuras nos falam, de forma simbólica, do progresso da alma – da ignorância até a sabedoria, do desejo material à conquista espiritual?

Veremos a seguir que a história narra etapas básicas da experiência da alma: sua evolução na matéria, sua luta no plano físico, seu desenvolvimento consciente.

Aristóteles disse que “por consequência, mesmo o adepto do mito é em certo sentido um filósofo; o mito é composto por milagres.” (in Mitologia – Lendas e Mitos de Todo o Mundo).

Muito bem, sabendo disso, é como filósofos que devemos apreender o mito de Hércules. Busquemos compreender o milagre, o símbolo, a verdade oculta, o enigma que se encontra nele, de modo que possamos manifestar a vida da alma; de modo que possamos viver, conscientemente, a LUZ da alma.

3. O Mito de Hércules


Hércules era filho de Zeus e Alcmena. Como Hera era sempre hostil aos filhos de seu marido com mulheres mortais, declarou guerra a Hércules desde o seu nascimento. Mandou duas serpentes matá-lo em seu berço, mas a precoce criança estrangulou-as com suas próprias mãos.

Pelas artes de Hera, contudo, ele ficou sujeito a Euristeu, rei de Tirinto e de Micenas, e obrigado a executar todas as suas ordens. Euristeu impôs-lhe a realização de façanhas perigosíssimas, que ficaram conhecidas como “O Doze Trabalhos de Hércules”.

Os seis primeiros trabalhos foram realizados na própria Grécia, mais especificamente no Peloponeso; os seis últimos levaram o herói ao "estrangeiro" e alguns deles a lugares muito distantes e puramente míticos.

4. Os Doze Trabalho


4.1. O Leão de Neméia (desidentificação da personalidade)

Euristeu impõe a Hércules o terrível trabalho de matar o leão de Neméia, que devastava aquele país. Perante o leão, o povo de Neméia se sentia totalmente impotente. Esse leão tinha, ainda, uma condição espetacular: nenhuma arma penetrava sua pele.

Hércules, ao chegar a Neméia, percebe que o povo dessa pobre terra vivia, totalmente, aprisionado em suas casas. Não ousavam sair para suas tarefas, não cultivavam a terra, não semeavam. O terrível rugido do leão era ouvido durante a noite e todos tremiam de medo.

Durante longos dias e noites Hércules procura o leão. Repentinamente, ele o avista . Então, pega seu arco e flechas, faz mira e dispara-as, uma após a outra, diretas no alvo. Para sua surpresa, as flechas caem no chão, sem perfurar a pele do leão. Insistindo, ele lança flecha após flecha, sem conseguir ferir o animal.

O leão olha triunfante para Hércules, dá meia volta e corre, desaparecendo. Hércules o procura por todo caminho e não o encontra. Repentinamente, acha uma caverna de onde ouve um rugido. Hércules penetra na escura caverna e sai do outro lado, sem encontrar o leão. Subitamente, ouve o leão às suas costas, e não à sua frente.

Pensa: “Esta caverna tem duas entradas e enquanto eu entro por uma, o leão sai pela outra e entra pela qual acabei de passar. Que farei? Nenhuma arma o atinge! Como matar este leão, para salvar este povo?”.

Enquanto pensava, olha ao redor, procurando uma solução e ouve o rugido do leão. Vê, então, umas pilhas de madeira e gravetos. Pega-as e fecha as entradas da caverna, encerrando-se a si próprio e ao leão ali dentro. Então, com as mãos nuas, agarra o leão e o estrangula. Assim, sem armas e com suas próprias mãos, ele o mata. Retira a pele da fera, mostrando-a ao povo de Neméia.

Simbolismo: essa tarefa representa o momento em que o indivíduo decide vencer para sempre as forças terrestres, representadas por nossa própria personalidade.

O leão de Neméia representa a poderosa faceta de nossa personalidade, correndo de forma selvagem e ameaçando a todos. Trata-se de terminar com o desgaste produzido pelo envolvimento emocional que o homem tem com aquilo que o cerca. Muito já se estudou e muito já se sabe a respeito desse processo: o se desidentificar dos corpos da personalidade (quaternário) é dos processos mais seguros para atingir tal realização. O indivíduo, durante qualquer reação emocional que experimente, deve perguntar-se quem, realmente, está reagindo. Indagando isso a si próprio, muitas e muitas vezes, ele descobre que, se está perguntando é por que existe, dentro de si, alguém que, sendo parte mais profunda do próprio ser, observa o emocional reagir. Com o tempo, ele se torna mais ligado a esse observador do que à parte que reage e, a partir daí, começa a libertar-se dos envolvimentos.

Ocorre que, se temos condições de ver nossas reações, só nos resta escolher: ficamos do lado que vê, ou do lado da parte que reage? Conforme nossa opção, começa a ser criado o observador dentro da personalidade; a partir daí, as forças que mantinham o envolvimento vão se dispersando, porque não estão mais sendo vitalizadas por nossa identificação com elas e o processo de desidentificação pode ser conduzido com sucesso.

4.2. A Hidra de Lerna (domínio da mente)


O pântano de Lerna era um lugar que desanimava quem dele se aproximasse. Seu mau cheiro era insuportável. Quando Hércules se aproxima, por pouco não é derrotado pelo mau cheiro. As areias movediças são mais uma ameaça e Hércules, rapidamente, retira o pé para não ser sugado pela terra.

Após muita procura, ele descobre o lugar onde a hidra vivia: uma caverna de noite perpétua. Dia e noite Hércules vaga pelo pântano, aguardando o momento em que ela se mostrasse, mas o monstro permanece em sua caverna. Hércules, então, resolve embeber suas flechas em piche ardente a atirá-las para dentro da caverna.

A hidra, com suas nove cabeças, sai enfurecida da caverna. Sua cauda escamosa chicoteia a água. A hidra ataca Hércules e procura envolver seus pés. Ele pula para o lado e dá-lhe um golpe, que decepa uma das cabeças do monstro. Mal a cabeça cai, duas crescem em seu lugar. Ela vai ficando cada vez mais forte. Onde seu sangue toca, tudo é envenenado.

Hércules, então, ajoelha-se, agarra a hidra com suas mãos nuas e a ergue. Suspensa no ar, a força do monstro diminui. De joelhos, então, Hércules sustenta a hidra no alto, acima dele, para que o ar purificado e a luz pudessem fazer o efeito necessário. A hidra, forte na escuridão e no lodo, logo perde sua força, quando os raios do sol e o vento a atingem. O monstro se debate convulsivamente, até que vai enfraquecendo. As nove cabeças caem, com as bocas escancaradas e os olhos esbugalhados. Mas, somente quando elas jaziam sem vida, Hércules percebe a cabeça imortal. Então, Hércules decepa a cabeça imortal da hidra e a sepulta, ainda feroz, sob uma rocha.

Simbolismo: foi dito a Hércules que encontrasse a hidra de nove cabeças que vivia em um fétido e úmido pântano.

Essas areias simbolizam a mente do homem e o pântano fétido, o seu subconsciente. Assim, o monstro tem sua contra parte que habita nas cavernas da mente. É o concentrado de todo mal, erros e falhas vividos durante o longo tempo passado pelo homem.

Na escuridão e na lama dos recessos obscuros da mente, floresce a hidra. Profundamente alojada nas regiões subterrâneas do subconsciente, ora calma, ora explosiva, a fera estabelece, em cada um de nós, morada permanente. Não é fácil descobrir sua existência e lutar contra esse inimigo, pois uma cabeça decepada e eis que outra surge em seu lugar. Toda vez que um desejo ou pensamento baixo é eliminado, outro toma seu lugar.

Quanto à pedra, sob a qual o herói deposita aquela cabeça, representa ela a vontade persistente de se vencer a hidra.

Hércules fez três coisas: reconheceu a existência da hidra, procurou pacientemente por ela e, finalmente, a destruiu. É necessário ter discernimento para reconhecer sua existência, paciência para descobri-la e humildade para expô-la à luz da sabedoria.

4.3. O Javali de Erimanto (controle dos desejos)

Na montanha de Erimanto havia um javali, que estava destruindo tudo ao seu redor. A Hércules é dada a tarefa de capturá-lo. Apolo lhe presenteia com um arco novo para usar, mas Hércules prefere não levá-lo para a tarefa. E, assim, apenas com sua clava, ele escala a montanha, procurando pelo javali, encontrando medo e terror por toda parte. Na subida encontra um amigo, Pholos, um centauro, que fazia parte de um grupo que era conhecido dos deuses. Ao parar para conversar, Hércules, por alguns momentos, esquece-se do objetivo de sua busca. Pholos convida Hércules para abrir um barril de vinho, que não lhe pertencia e sim ao grupo de centauros. Esse barril foi presente dos deuses ao grupo e só deveria ser aberto quando todo o grupo estivesse reunido. Hércules e Pholos, porém o abriram na ausência dos outros e convidaram Cherion, um outro centauro, para acompanhá-los.

Os três bebem e festejam, ficando bêbados e fazendo muito ruído. Os outros centauros ouvem o barulho e são atraídos até o local. Enraivecidos, travam uma feroz batalha e Hércules mata, agora, os seus dois amigos, com quais ele antes havia bebido. Enquanto os demais centauros choram suas perdas, Hércules escapa, novamente, para as altas montanhas e recomeça sua busca ao javali.

Hércules persegue o javali, mas não consegue capturá-lo. Então, resolve pensar em uma forma de pegá-lo, colocando uma armadilha, cuidadosamente oculta, esperando, em uma sombra, pela chegada do animal. As horas passam e ele espera, até surgir a aurora. De sua toca, o javali surge, procurando alimento. Cai na armadilha e, no devido tempo, Hércules liberta a fera selvagem. Ele luta e consegue domesticá-lo, fazendo com que ele o seguisse e fizesse o que Hércules determinasse.

Do pico nevado da grande montanha Hércules desce, feliz levando diante de si, montanha abaixo, o feroz e domesticado javali. Pelas duas pernas traseiras ele o conduz e todos, na montanha, riem ao ver cena. Todos os que vêem Hércules, cantando e dançando pelo caminho, também riem.

Simbolismo: a captura do javali simboliza o controle dos desejos humanos. A luta que deve ser empreendida para domesticá-los e fazê-los seguirem nossa vontade.

O que se constata aqui é que, até certo ponto da evolução do homem, essa tarefa de dominar e transformar o desejo é considerada difícil, pesada e triste, além de preocupante. Depois de certo tempo, quando o ser está habituado a entregar-se à purificação, o trabalho sobre o desejo humano arraigado torna-se peso leve, encarado com jovialidade e alegria. À medida que o homem alinha a sua personalidade com as energias do próprio Eu interno, usufrui da alegria desse núcleo, que não conhece as penas comuns do emocional e do mental.

As intenções positivas do progresso nem sempre correspondem às nossas possibilidades reais. Podemos ter o propósito de não matar, não embriagarmos, não nos iludirmos, mas se o javali não está domesticado, nada podemos garantir.

Domesticar o javali (desejos), portanto tem início com a decisão de não se repetir mais um ato negativo e, sim seu oposto. Assim, o Universo se reequilibra. Não há culpa, não há erro, mas experiência, que gera um comportamento mais maduro.

4.4. A Corça de Cirenéia (perseverança no objetivo)

Euristeu manda que Hércules capture a “Corça da Galhada de Ouro”.

Ártemis, a deusa da lua, reclama a corça como sua, mas Diana, a caçadora, também a quer e, ambas, disputam a sua posse.

Hércules parte para a sua captura. Persegue-a durante um ano inteiro, vagando de uma floresta para outra, vendo-a, em um rápido relance, para em seguida perdê-la. Os meses se passam e ele não consegue agarrá-la. Até que um dia ele a vê, dormindo, exausta, à margem de uma lagoa. Hércules, então, lança uma flecha e fere-a no pé. Ela não se move, ele vai até ela, toma-a nos braços e enlaça-a junto ao seu coração, enquanto Ártemis e Diana observam.

Terminada a busca, ele grita: “A corça é minha!” Então, ouve uma voz: "Não, não é! Oh! Hércules. A corça não pertence a um filho do homem, mesmo sendo um filho de Deus! A corça terá de ser levada para o santuário e ser deixada lá.”

Então, Hércules leva a corça para o santuário. Carrega-a para o centro do lugar santo e lá a deposita . Notando o ferimento causado por sua flecha no pé da Corça, conclui que ela era sua, por direito de caça, e brada: “Ela é minha!”

Ártemis, que se achava no pátio externo do santuário, ouve e diz: "Não, não é! Ela é minha, sempre foi minha! Eu vi sua forma, refletida na água, eu ouvi seus passos pelos caminhos da terra, eu sei que a corça é minha, pois todas as formas são minhas".

Do lugar sagrado, fala o Deus-Sol Apolo: "A corça é minha, não tua! Oh! Ártemis! Seu espírito está comigo por toda a eternidade, aqui no centro deste santuário sagrado! Tu, Ártemis, não podes entrar aqui, mas sabes que eu digo a verdade. Diana pode entrar por um momento e contar-te o que vê.”

A caçadora entra no santuário e vê a forma daquilo que fora a corça, jazendo diante do altar, parecendo morta. Com tristeza diz: “Se seu espírito permanece contigo Apolo, então sabes que a Corça está morta. Foi morta por Hércules. Por que ele pode passar para dentro do santuário, enquanto nós esperamos fora?”

"Porque ele carregou-a em seus braços, junto ao coração, e a ela encontra repouso no lugar sagrado e, também, o homem. Todos os homens são meus! A corça é, igualmente minha e não vossa, nem dos homens, mas minha!” responde Apolo.

Hércules retira-se e ouve uma voz: “Vai olhar de novo entre os pilares do Portão". Para sua surpresa vê, entre eles, uma esguia corça. Atônito, ele indaga à voz: "Realizei a prova! Como a corça está de volta?" A voz lhe responde: “Muitas e muitas vezes precisam todos sair em busca da Corça de Galhada de Ouro e carregá-la para o lugar sagrado, muitas, muitas vezes!"

Simbolismo: nesse trabalho Hércules obedece a muitas vozes e é testado em relação a qual delas seguir.

As personagens que aparecem no mito são, muitas vezes, aspectos do mesmo ser. A corça, por exemplo, representa vários aspectos de Hércules. Representa ora o instinto (a parte mais material), ora a intuição, luz que traz em si todas as soluções, dispensando o uso do raciocínio. O lado instintivo, possessivo, quer ter a corça só para si; em outro momento, é o intelecto que não se dispõe a desapegar-se dela. Todos se julgam seus proprietários.

A esta altura, o consciente não se deve deixa influenciar pelo instinto (Artemísia) e nem pelo intelecto (Diana), mas seguir a voz da sabedoria. As vozes de Artemísia e de Diana acompanham todos nós no decorrer da vida. Qualquer instabilidade ou vacilação durante uma ação que tendo sido escolhida pela parte mais consciente do ser representa uma queda no processo de crescimento. Executada tal ação, a seguinte deve ser empreendida, sempre em ordem, de forma inabalável. Educa-se, desse modo, a perseverança. Hércules, por um ano, isto é, por um ciclo inteiro, sobe e desce colinas, procurando a corça pelas florestas, persistentemente, sem jamais desviar-se do objetivo proposto. Todos os obstáculos, sejam os apelos de Artemísia ou os argumentos de Diana, são recebido como estímulos e não o tiram do seu propósito.

Paciência infinita e não-crítica são, neste trabalho, fundamentais. Vence, no final, a equanimidade do homem que não perde o sorriso mesmo diante de fatos aparentemente tristes. Sim, deve-se sorrir durante a busca dessa corça, mesmo que advenham circunstâncias desanimadoras.

4.5. Os Pássaros do Lago Estinfalo (controle da palavra)

Os pássaros eram tantos que não se podia ver o Sol. Eles eram grandes, ferozes e tinham bicos de ferro, afiados como espadas e penas que pareciam dardos de aço. Eles estavam estragando a terra, danificando tudo sem que se pudesse contê-los. Os pássaros tinham três líderes, que eram maiores.

Hércules procura, intensamente, por esses pássaros, até encontrá-los no fétido pantanal. Eles gralhavam loucamente, em um coro ameaçador e dissonante.

Aproximando-se, Hércules vê os pássaros ferozes e horrendos. Suas penas, ao caírem, cortavam como afiadas lâminas. Suas garras e seus bicos tinham imensa capacidade de corte e força.

Os três pássaros líderes, notaram a presença de Hércules e arremeteram-se-lhe. Ele permaneceu onde estava e revidou aos ataques com a sua clava. Um dos pássaros foi atingido e os outros se retiraram. Diante do pântano, Hércules permanecia, e pensava como cumprir a sua tarefa. Como livrar o local daqueles pássaros destruidores.

Primeiro tentou matá-los com uma chuva de setas. Os poucos que conseguiu matar nada representavam em relação aos muitos que permaneciam vivos. Então, ele pensou em colocar armadilhas no pântano. Assim, nenhum pássaro, ou ser humano, poderia atravessar o lodaçal.

Ele possuía dois pratos de bronze, que emitiam um som estridente, não terreno, tão áspero e tão penetrante que seria capaz de amedrontar os mortos. Esses pratos lhe foram dados por Athena. Para Hércules, o som era tão intolerável que ele tinha de cobrir os ouvidos para protegê-los. Ao anoitecer, quando o pantanal estava recoberto de pássaros, ele voltou e tocou os pratos aguda e repetidamente. Um som que jamais tinha sido ouvido antes foi emitido. Assustados e perturbados pelo som, os pássaros levantaram voo, batendo as asas, selvagemente, em debandada, para nunca mais voltarem. Seguiu-se um longo silêncio em todo o pântano. Os horríveis pássaros haviam desaparecido e os raios do sol poente eram vistos.

Simbolismo: neste trabalho, o som tem um papel proeminente.

Ora, o som e o ar simbolizam a mente do homem; os pássaros representam o concentrado de pensamentos e de palavras negativas criados em todos os tempos. Esse conjunto, fortalecido pelo uso, precisa ser colocado à luz da alma.

Os três pássaros que se destacam dos demais têm significado especial: os primeiro representa a tagarelice que se pratica inconscientemente durante vidas; o segundo, as informações reveladas aos que não estão prontos ainda para escutá-las; o terceiro, o falar continuamente de si próprio, egoisticamente, para enaltecer-se ou valorizar-se em detrimento dos outros. Esses hábitos são destrutivos como os referidos pássaros.

Uma palavra humana tanto pode ajudar uma força a evoluir, como pode também matá-la, ou impedir que adquira algum núcleo que a mantenha coesa e integrada. A fala supérflua e a tagarelice são trazem consigo a energia dos níveis internos do homem; ao contrário, são ruídos devastadores, que têm como suporte forças advindas de regiões menos conscientes. Para que a palavra venha acompanhada de um elemento benéfico, construtor e positivo, é preciso que o ser interno do indivíduo a vitalize com a sua presença.

O címbalo, nessa história, representa o uso adequado do som, a ação correta de caráter construtivo.

É necessário, pois, transformarmos e elevarmos a nossa palavra, para que mais tarde possamos ouvir os sons que existem dentro de nós. Isso pode ser feito em duas etapas. A primeira etapa desse processo de transformação e elevação é o autocontrole. Cortando pela metade o número de palavras pronunciadas diariamente, tornamo-nos aptos a refletir antes de falar, pois só assim, evitando o palavreado meramente compulsivo, temos tempo para pensar.

A segunda etapa e a da reflexão. Nela fazemos o trabalho de ouvir antecipadamente o que vamos falar. Selecionamos a palavra e passamos a construir a conversação ou o discurso inteligentemente.

Sem a seleção da palavra, o indivíduo não pode ter visão clara da meta interna e externa da sua vida. A energia para se caminhar na direção correta vem do fato de se aprimorar esse controle, cada vez mais.

4.6. Os Estábulos do Rei Augias (humildade e depuração)

Euristeu impõe a Hércules a repugnante tarefa de limpar, em um dia, as estrebarias de Augias, rei de Elida. Esse rei possuía inúmeros rebanhos. Seus estábulos, onde estavam confinados mais de três mil bois, não eram limpos há trinta anos. Estavam obstruídos por tanto esterco, que não se conseguia acabar com o terrível cheiro que dele se espalhava para os arredores. Em consequência, a peste varria o país, devastando centenas de vidas humanas.

Hércules, então, dirige-se para o palácio e procura por Augias. O rei, informado de que Hércules viria limpar os fétidos estábulos, confessa sua dúvida e descrença. "Dizes que farás esta imensa tarefa sem recompensa?" declarou o rei, respeitosamente. "Não confio naqueles que anunciam tais bazofias. Hás de ter algum plano astucioso que arquitetaste! Oh! Hércules! para me roubar o trono! Jamais ouvi de homens que procuram servir o mundo sem recompensa. Nunca ouvi. A esta altura, contudo, eu, de bom grado, acolheria qualquer tolo que procurasse ajudar. Mas deve ser feito um trato, para que não zombem de mim como sendo um Rei tolo. Se tu, em um único dia, fizeres o que prometeste, um décimo de todo meu rebanho será teu, mas se fracassares, tua vida e teus bens estarão em minhas mãos. Não penso que possas cumprir tuas bazofias, mas podes tentar."

Hércules deixa a presença do rei e começa a vagar pela pestilenta área e vê inúmeros cadáveres em uma carroça. Ele, também, observa dois rios que fluíam mansamente pela região, o Alfeu e o Peneu. Sentado à beira de um deles, a resposta ao problema lhe veio à mente, qual um relâmpago. Com sua força e determinação ele inicia sua tarefa. Ele consegue desviar ambas as correntes dos cursos d’água e faz com que os rios derivem seus cursos através dos estábulos cheios de esterco.

Hércules derruba a parede que cercava os estábulos e faz com que a água ali circule, limpando a imundice reinante. Em um único dia foi cumprida a tarefa impossível.

Quando Hércules, satisfeito com o resultado, voltou à presença de Augias, o rei não ficou satisfeito. "Conseguiste êxito com um truque!" gritou de raiva. “Os rios fizeram o trabalho, não tu! Foi uma manobra para tirar meu gado, uma conspiração contra meu trono. Não terás uma recompensa. Vai! sai daqui, ou mandarei decapitar tua cabeça.”

O enraivecido rei, assim, baniu Hércules e o proibiu de jamais voltar ao seu reino, sob pena de morte.

Simbolismo: com esta prova de caráter lustral entra em ação a água como elemento de purificação.

O trabalho de um servidor nem sempre parece “grande” aos olhos dos outros. Geralmente ele tem o mesmo caráter de simplicidade que tem a tarefa de “limpar estábulos”, tida por todos como de somenos importância. Qualquer que seja a forma que esse trabalho assuma, esse serviço não visa ao benefício próprio de quem o executa, mas o benefício geral. Seja qual for a sua natureza, o grau de evolução do servidor, o que conta são a vida e o amor empregados na tarefa. Importa executá-la e em seguida retirar-se de cena, pois os resultados não pertencem a quem serve.

Ressalte-se, ainda, que esse serviço tem como características o desinteresse e a pureza.

Esse trabalho representa, ainda, a limpeza de toda a nossa sujeira acumulada, que é composta por raiva, angústia e emoções negativas. Para fazer uma limpeza interior, devemos observar diariamente e com honestidade a qualidade de nossas reações e emoções. Após essa observação, devemos melhorar a qualidade dessas mesmas reações e emoções, “limpando” aquelas que são deletérias.

4.7. O Touro de Creta (controle da energia sexual)

Minos possuía um touro sagrado que ele mantinha na ilha de Creta, da qual era rei. Euristeu chama Hércules e diz-lhe que é necessário capturar o touro e conduzi-lo ao lugar onde habitam os homens de um olho só. O touro possuía uma estrela cintilante que brilhava em sua testa, o que ajudaria a encontrá-lo.

Hércules consegue capturar o touro graças a esta luz emitida da testa do animal. Cavalga-o como se ele fosse um cavalo, atravessando as águas em direção à terra onde habitavam os ciclopes. Ao chegar a este local, lá estavam três ciclopes: Brontes (trovão), Steropes (relâmpago) e Arges (atividade turbilhonante), aos quais entregou o touro.

Simbolismo: o touro que figura neste trabalho simboliza o sexo em todos os seus aspectos: desde a força criativa até o desejo animal. A ilha com seu labirinto representa a grande ilusão, o eu separado, a totalidade do desejo; o continente, para onde Hércules leva o touro domado, a consciência do Eu superior.
Montar o touro significa, aqui, controlar o sexo. Note-se que este não é massacrado, nem morto, mas montado e guiado sob a maestria do homem.

Aqueles que vivem no continente simbolizam o uso correto dessa energia. Na sua natureza animal, Hércules é o touro, e na sua natureza superior corresponde aos homens do continente (ciclopes), corretamente polarizados e que, por isso, têm um único olho.

Esta tarefa mostra-nos que o relacionamento de um indivíduo com a energia sexual depende do seu grau evolutivo. Não há dois indivíduos em pontos iguais, portanto não há fórmulas para esse relacionamento.

O resultado desse trabalho de captura do touro equivale a reconhecer as funções sexuais físicas como uma herança divina, como um equipamento que nos foi dado para a continuação da espécie no plano físico.

A energia sexual, que é criativa e enquanto reprodutora, tem a função de levar adiante o grupo humano, provendo corpos para as encarnações de almas. Cumprida essa tarefa, pode ela, no entanto, ser sublimada em todos os seus aspectos de desejos e transformar-se em capacidade para criações superiores em outros níveis de consciência. Assim, percebe-se que o controle do desejo sexual, o ato de levar o touro da ilha para o continente e de entregá-lo aos homens de um olho só, em um ser humano, é tarefa de repercussão mais profunda do que a mente normal pode conceber.

4.8. Os Cavalos de Diomedes (retenção da mente crítica)

Esse mito nos revela que o belicoso Diomedes, filho de Marte, governava e, em suas terras, criava cavalos e éguas para a guerra. Os cavalos eram selvagens e as éguas ferozes. Todos os homens tremiam diante deles. Eles assolavam todos os recantos da região, causando destruição e matando todos os filhos dos homens que cruzassem seu caminho. As éguas procriavam, sem cessar, cavalos extremamente selvagens e cruéis. Hércules recebe, então, ordem para capturar essas éguas e por fim ao problema.

Para essa tarefa o Herói chama Abderis, seu grande amigo, que tanto o amava e que sempre o seguia por onde fosse. Abderis aceita o chamado e com ele enfrenta a tarefa. Traçando os planos com cuidado, os dois seguem os cavalos soltos pelos prados e pântanos da região. Hércules consegue, finalmente, encurralar as bravas éguas em um campo onde não havia espaço para elas se moverem e agarra-as acorrentando-as. Hércules fica tão feliz com o sucesso que dá gritos de alegria. Tão grande era essa alegria pela proeza feita, que julgou ser indigno de si segurar as éguas, ou conduzi-las até Diomedes. Então, ele chama Abderis e manda que ele leve os cavalos. Feito isto deu meia volta e, orgulhosamente, seguiu em frente.

Abderis era fraco e teve medo da tarefa. Ele não consegue conter as éguas e conduzi-las. As éguas voltam-se contra ele, atacam-no, matam-no e fogem.

Hércules, abatido pela dor, humildemente, retoma a sua tarefa, deixando o amigo morto no chão. Prende novamente os cavalos e os conduz para serem domesticados e adestrados em um lugar de paz.

O povo daquela região, livre do medo, aclama Hércules como libertador e salvador de sua terra. No entanto, Abderis jazia morto. Se percebermos, esse trabalho, começa com um fracasso parcial, como acontece com todos os que se valem de inexperiência e de impetuosidade para realizar qualquer coisa.

Simbolismo: nesta história, o pântano, dominado por Diomedes, simboliza a mente humana que começa a desenvolver-se como elemento pensante, raciocinante. Não nos esqueçamos de que ela é formada durante muito tempo pelo egoísmo, pela crítica, crueldade e amor pela tagarelice. As éguas devastadoras equivalem a tais aspectos dessa mente humana, que dão origem aos conceitos, às teorias e idéias que se encaixam e se afinam com a mentalidade das pessoas em geral, da sociedade organizada, enfim, com o mundo ainda não transformado, correspondente às terras pantanosas.

Aquelas “terras” (isto é, o nosso ser) podem tornar-se férteis e felizes quando libertas de suas próprias tendências. Essas “éguas”, que existem em todos nós e correspondem a aspectos mentais que implicam devastação e críticas, são passíveis de transmutação e desenvolvimento, quando inspiradas pelo “lugar de paz” – para onde devem ser levadas.

Durante épocas seguidas, as éguas estiveram soltas: a mente foi cruel e devastadora por não ter ainda contato com o lugar pacífico que existe além dela, o da sabedoria. Ela levou o homem a devastar primeiro o seu próprio corpo físico (com hábitos inadequados) e, depois, a própria natureza terrestre. Levou-o devastar seus relacionamentos, por meio, principalmente, das “éguas” da tagarelice.

Reter essa mente que critica, que tem idéias e teorias próprias, que é eivada de preconceitos, transportá-la para um outro patamar, levando-a a captar o pensamento superior, a energia da alma, usando-se para tanto a força da própria decisão, eis a tarefa hercúlea a ser empreendida por todos nós.

Não devemos, porém, iludir-nos, pensando que, a uma certa altura, o trabalho já esteja pronto. A história da captura da mente é longa. Para que o egoísmo e a crítica sejam completamente domados, são necessários tempo e trabalho.

4.9. O Cinturão de Hipólita (união das polaridades masculina e feminina)

Hipólita vivia nas costas do Grande Mar. Ela reinava sobre todas as mulheres do mundo que eram suas vassalas e guerreiras destemidas. Em seu reino não existia nenhum homem. Só as mulheres, reunidas em torno da sua rainha. Faziam adorações diárias no templo da Lua e realizavam sacrifícios a Marte, o Deus da Guerra. Anualmente, realizavam uma visita ao abrigo dos homens. De volta de uma dessas visitas, elas aguardavam a palavra de Hipólita, sua rainha, que se encontrava na parte mais alta do templo junto ao altar, envergando o cinturão que lhe fora dado por Vênus. Este cinturão era símbolo da unidade conquistada através da luta, do conflito, da aspiração. Era considerado, ainda, símbolo da maternidade e da geração da criança sagrada.

Hipólita dirige-se às suas guerreiras e diz: "Ouvi dizer que está a caminho um guerreiro, cujo nome é Hércules, a quem eu devo entregar este cinturão que uso. Deverei obedecer à ordem? Oh! Amazonas! Ou deveremos combater a vontade dos Deuses?"

Enquanto ouviam essas palavras, chega a informação de que Hércules já se encontrava do lado de fora do templo, para tomar o cinturão sagrado da rainha.

Hipólita vai ao encontro de Hércules e ele luta com ela, não ouvindo as palavras que ela procurava lhe dizer. Ele arranca-lhe o cinturão sem reparar que ela, de mãos estendidas, lhe oferecia a dádiva, símbolo da unidade e do amor, do sacrifício e da fé. Tomando-o, ele a fere, matando quem lhe entregava aquilo que ele exigia. Hércules, então, colocando o cinturão junto ao peito, busca o caminho de casa, deixando as amazonas lamentando a perda de sua rainha.

Hércules chega de volta às costas do Grande Mar. Perto da praia rochosa, ele vê um monstro das profundezas, com uma mulher presa em suas mandíbulas. Era Hesione. Seus gritos chegam até Hércules, que está perdido em remorsos e sem saber qual caminho seguir. Então, ele resolve ajudar-lhe, porém era muito tarde, pois ela já havia sido engolida pelo monstro. Hércules, todavia, esquecendo-se de si mesmo, nada até o monstro. Abre sua boca e o engole. Descendo até o fundo do túnel vermelho de sua garganta, Hércules busca Hesione, encontrando-a no fundo do estômago do monstro. Com a mão esquerda ele a agarra e a sustenta junto de si, enquanto que com sua espada abre caminho para fora do ventre do monstro. Assim, ele a salva, equilibrando sua ação de matar Hipólita. Assim é a vida: um ato de morte, um ato de vida.

Simbolismo: nesta etapa, o cinto simboliza a unidade e o amor.

Fica patente o problema do antagonismo entre os sexos, considerados os níveis físico e psicológico dos indivíduos. Tal antagonismo, que humanamente se apresenta como uma incompreensão quanto ao verdadeiro papel do sexo, é baseado na ignorância, ainda tão arraigada na natureza humana. Em nossa cultura, é muito forte ainda a associação entre corpo físico e comportamento, o que nos impede de reconhecer dentro de nós traços do polo oposto de nossa sexualidade.

Todos temos traços tipicamente masculinos, tais como: coragem, firmeza, capacidade de decisão etc. Dentre os femininos, temos: suavidade, modéstia, prudência, ternura etc. Reconhecer a presença desses aspectos, quer sejam masculinos, quer femininos, é o princípio do trabalho de união. Depois de reconhecer que todos temos os dois aspectos (feminino e masculino), cabe-nos procurar superar os traços negativos de ambos os sexos e desenvolver ao máximo os positivos de cada um deles. Desde que sejam positivos, unificam-se, no que for possível, os aspectos masculinos e femininos no próprio ser, harmonizando-se em sua oposição.

Assim, o cinto, na história de Hércules que também é a nossa, é símbolo da união das duas polaridades, a masculina e a feminina.

4.10. Os Bois de Gerião (domínio da ilusão mental)


Hércules é mandado a Eritréia para capturar o gado vermelho de Gerião, monstro de três corpos e três cabeças. Esse gado era guardado pelo pastor Euritião e seu cão de duas cabeças: Orto, irmão de Cérbero e da Hidra de Lerna. O gado deveria ser entregue a Euristeu em Micenas.

O gado vermelho pastava perto do local onde o rebanho de Plutão ficava. A grande dificuldade seria atravessar o oceano. Para isso, Hércules pede emprestada a Barca do Sol, que pertencia a Helius. Ele a utilizava todos os dias para regressar ao seu palácio, no Oriente, após mergulhar nas entranhas do oceano.

A cessão da barça não foi espontânea. Hércules já caminhava, há longo tempo, pelo extenso deserto da Líbia, e os raios do Sol eram tão quentes e o calor tão intenso, que Hércules ameaçou varar o astro com suas flechas. Helius, aterrorizado, emprestou-lhe, então, sua barca. Chegando à ilha de Eritréia, defrontou-se, de saída, com o cão Orto, que foi morto a golpes de clava. Hércules poupa Euritião e conduz o gado vermelho. Ainda não estava muito longe daquelas pastagens, quando percebe a aproximação do monstruoso Gerião.

Logo, Hércules e Gerião estavam face-a-face. O monstro avança sobre ele. Gerião brande uma lança que quase atinge Hércules. Saltando, agilmente, ele evita o ataque. Esticando bem o seu arco, Hércules lança uma flecha que atinge o monstro em seu flanco e todos os três corpos de Gerião são perfurados. Com um guincho desesperado, o monstro cai morto.

Para Micenas então, Hércules conduz o belo gado vermelho. Difícil foi a tarefa. Volta e meia alguns bois se desgarravam, e Hércules corria para recuperá-los.

O rebanho é embarcado na Barca do Sol e Hércules tem um regresso bastante tumultuado, pois diversas vezes é atacado por bandidos, que lhe cobiçavam o rebanho. Tendo partido pelo Sul e pelas costas da Líbia, Hércules regressou pelo Norte, seguindo as costas da Espanha, e depois as da Gália, passando pela Itália e Sicília. Finalmente, se encaminhou para a Grécia, mas, ao tocar a margem helênica do Mar Jônio, o rebanho foi atacado por ordem de Hera.

Hércules só conseguiu reunir uma parte do rebanho, o resto se perdeu. O que sobrou do rebanho foi entregue a Euristeu.

Simbolismo: essa tarefa de transportar o rebanho exige muita paciência e uma vontade férrea.

Dos símbolos apresentados neste mito, Gerião, monstro que Hércules mata, representa a humanidade ainda não iluminada. Os três corpos do monstro simbolizam a consciência física, emocional e mental humanas, unidas ainda contra as força evolutivas (entendidas e trabalhadas separadamente).

O pastor representa a mente humana e o cão de duas cabeças, sua natureza dual. Todas essas figuras nos dizem a mesma coisa, em diferentes graus. A ilusão mental apresenta-se sob diversas formas, porque, assim, de alguma maneira consegue prender o homem que ainda está da escuridão. À medida, porém que a personalidade se vai elevando, a luz lhe ilumina o caminho.

Hércules mata Orto a golpes de clava, ou seja, destrói a natureza dual da mente e, consequentemente, a ilusão. O mesma se dá em relação a Gerião.

4.11. As Maçãs de Ouro das Hespérides (coordenação dos corpos da personalidade por impulso da alma)

Em um longínquo país crescia uma árvore sagrada, a árvore da sabedoria, que produzia as maçãs de ouro de Hespérides. Esses frutos eram desejados por todos. Hércules recebe ordem para procurá-los.

Quando o trabalho lhe é determinado, apenas duas informações lhe são dadas: a primeira é a de que a árvore é muito bem guardada e três donzelas cuidam dela, carinhosamente, protegendo os seus frutos. Um dragão de cem cabeças protege as donzelas e a árvore. A segunda, é a de que ele enfrentará algumas provas no caminho. Cada uma dessas provas proporcionará um campo de ação para a sabedoria, compreensão, habilidade.

Cheio de confiança, Hércules põe-se a caminho, seguro de si, de sua sabedoria e de sua força. Percorre a Terra à procura da árvore sagrada, mas não a encontra. Perguntava a todos que via pelo caminho, mas ninguém conhecia o lugar. O tempo passava e ele vagava de um lugar para outro; assim, começa a ficar triste e desencorajado. Foi-lhe, então, enviado Nereu, para lhe auxiliar. Várias vezes ele tenta se aproximar de Hércules para lhe ajudar, mas Hércules não o entendia e nem sequer o reconhecia como mensageiro. Nereu fracassa na sua empreitada, pois Hércules não reconhece a ajuda, sutilmente, oferecida. Não encontrando a árvore sagrada no caminho do norte, Hércules retorna em direção ao sul e continua sua busca. Então Anteu, a serpente, atravessa-lhe o caminho e luta com ele, vencendo-o. Hércules acha que a árvore deve estar por perto, pois considera a serpente Anteu como guardiã da árvore. No entanto, ele não consegue vencê-la. Hércules não se conforma com isso, pois, quando criança, destruiu uma serpente em seu berço. Por que o fracasso agora? Lutando novamente, ele agarra a serpente em suas mãos e levanta-a no ar, longe do chão, vencendo-a.

Cheio de coragem, Hércules continua sua busca. Agora, se volta para o ocidente e, mais uma vez, não encontra a árvore. Nesse momento ele encontra Busiris, o grande enganador, filho das águas, parente de Possêidon. Seu trabalho é trazer a ilusão através de palavras de aparente sabedoria. Ele pronuncia belas palavras e Hércules obedece e, a cada dia, se enfraquece mais e se distancia do seu objetivo. Até que é amarrado em um altar e mantido ali por um ano. Repentinamente, um dia, enquanto luta para se libertar, lentamente, começa a perceber quem era realmente Busiris, lembrando-se das palavras de Nereu: "A verdade está dentro de ti mesmo. No teu interior há um poder mais elevado, força e sabedoria". Então ele rompe as amarras, agarra o falso mestre e prende-o no altar em seu lugar.

Hércules parte, sem rumo certo, para prosseguir a sua busca, agora, com mais sabedoria.

Repentinamente, um grito de profundo desespero atinge os seus ouvidos. Alguns abutres voam em torno de uma rocha, o que lhe chama a atenção. Ele fica em dúvida de prosseguir o seu caminho, ou procurar a pessoa que necessitava de ajuda. Ele resolve, então, correr em direção ao grito e encontra Prometeu acorrentado à rocha, sofrendo terríveis agonias de dor. Os abutres lhe devoravam o fígado. Hércules salva Prometeu e o liberta, continuando a sua busca, até que um dia, ouve, de um peregrino, o rumor de que perto de uma montanha distante a árvore seria encontrada.

Hércules, então, se dirige às altas montanhas do leste, vê o objeto de sua busca e pensa que logo tocará a árvore sagrada. Contudo, novamente é tomado por uma imensa tristeza. À sua frente está Atlas, cambaleando sob o peso do mundo às suas costas. Ele não pede auxílio e sequer vê Hércules; apenas está lá, curvado pela dor. Hércules esquece sua busca e retira a carga das costas de Atlas e passa-a para suas próprias costas e eis, que então, a carga se desprende e, tanto ele como Atlas, ficam livres dela. Nesse momento, ele percebe que Atlas, com as mãos estendidas, lhe oferece as maçãs de ouro, e com isto termina seu trabalho.

Simbolismo: esta história fala por si mesma. Representa o momento da nossa evolução em que tentamos ficar aptos a sentir a presença do Eu Interno, a alma.

Hércules passa por diferentes testes, típicos da etapa em que a alma e os corpos do indivíduo fazem a tentativa de coordenarem-se entre si. No primeiro teste, ele não reconhece a presença e a mensagem do verdadeiro emissário do instrutor interno (Nereu). Em nossa vida, ele pode manifestar-se por meio de qualquer outro ser que comece a nos dizer algo que o nosso próprio Eu nos diria. Na maioria das vezes, porém não lhe damos importância e deixamos, assim, que a oportunidade passe despercebida.

O segundo teste diz respeito à ilusão do plano físico, pois Hércules continua procurando a árvore da sabedoria como se ela fosse uma planta concreta. Insiste ele nessa busca externa por muito tempo e a procura da sabedoria e do conhecimento fora de si atrai o encontro com o falso instrutor, que o engana (Busiris).

O terceiro teste indica claramente que procurar a verdade no plano externo não traz resultado positivo, pois vaga sem encontrar a árvore. O quarto teste dá-se diante de Prometeu acorrentado. Nesse momento, Hércules esquece o ideal e a visão de sua própria busca da árvore sagrada, ocupando-se daquele que dá a impressão de estar no final da vida. Após salvá-lo, prossegue sua caminhada em busca da árvore das maçãs.

O último teste refere-se ao encontro com Atlas, que simboliza gigantesco aspecto de Hércules. Atlas, carregando o mundo nas costas enfrenta imensa dor. Diante dessa dor, Hércules esquece-se completamente de sua busca e do seu próprio progresso e retira o mundo dos ombros de Atlas, colocando-o sobre os seus. O auto esquecimento, que leva à energia correta no ato de servir ao outro, elimina a possibilidade de desencorajamento, em qualquer tipo de crise; faz com que as decepções não nos toquem mais e com que não tenhamos pressa. O desencorajamento, as decepções e a pressa, eis três obstáculos à coordenação dos corpos da personalidade com a alma. Se o homem age desinteressadamente, sem visar a resultados para si, esse processo dá-se natural e gradualmente, sem preocupações, ansiedades nem conflitos.

4.12. Cérbero, o Guardião do Hades (transformação interior)

Euristeu ordena que Hércules desça ao mundo dos mortos (Hades) para, de lá, trazer Cérbero, o cão de três cabeças, cauda de dragão, pescoço e dorso eriçados de serpentes, guardião do reino de Plutão e Perséfone.

Cérbero impedia a entrada dos vivos nos reinos de Plutão e, quando por acaso isso acontecia, não lhes permitia a saída, a não ser com o consentimento de Plutão.

A entrada de Hércules no Hades era a violação de um reino sagrado, que nenhum herói havia conseguido executar. Guiado por Athena e Mercúrio, chega ao rio Aqueronte, o rio que as almas dos mortos tinham de cruzar para chegar ao Hades. Um óbolo, ou moeda tinha de ser pago a Caronte, o barqueiro, para que ele os levasse do outro lado. Hércules assusta Caronte e este o leva para o outro lado sem cobrar.

Hércules, finalmente, penetra no Hades, uma nevoenta e escura região, onde as sombras dos mortos esvoaçavam. Cérbero guarda a entrada do Hades, sabendo a quem permitiria a entrada e a quem manteria afastado. Quando Cérbero vê Hércules, foge tremendo para junto do seu amo, Plutão e esconde-se embaixo do seu trono.

Os fantasmas também fogem e Hércules, quando percebe a Medusa, com seus cabelos de serpentes, toma a sua espada, mas Mercúrio o adverte de que se tratava de uma sombra vã (ilusão).

Finalmente, Hércules chega diante de Plutão e, sem mais, pede-lhe para levar Cérbero para Euristeu. Plutão concorda, desde que ele o capturasse sem feri-lo. Hércules o agarra e, quase sufocado, o guardião do reino dos mortos perde as forças e aquieta-se. Subindo com sua presa, dirige-se, rapidamente, para Micenas, para mostrar Cérbero a Euristeu.

Tendo cumprido a tarefa e, não sabendo o que fazer com Cérbero, Hércules o leva de volta a Plutão, no Hades.

Simbolismo: em trabalhos anteriores, Hércules passara pelo seu inferno pessoal, simbolizado pelos diferentes pântanos. Neste, ele ingressa no inferno coletivo.

As três cabeças de Cérbero, guardião do Inferno, simbolizam a sensação, o desejo e as boas intenções. A cabeça central, o desejo, é logo atacada por Hércules, porque é a principal delas, a que motiva e dirige as outras. Todos sabemos que as boas intenções da criatura humana quase nunca correspondem à sua verdadeira necessidade ou à de outrem; elas têm origem no desejo, e por isso permanecem no nível ilusório, como que lutando contra moinhos de vento. Quanto às sensações, sempre deixam a mente ocupada quando esta deveria estar livre.

As serpentes emaranhadas, ou que se enroscam, representam aqui, as ilusões que impedem a vida espiritual do homem, a saber, o chamado para o materialismo em seus aspectos de excesso de consumo, luxo, ou apego a objetos, bens, situações ou pessoas – ilusões que levam a energia para os níveis inferiores do ser. Outras são de natureza puramente psíquica, como, por exemplo, o medo, que acaba trazendo a inércia. Se refletirmos acerca de Cérbero e de Medusa, encontraremos em nós mesmos pontos a serem transformados.

Essa transformação nos leva a conhecer níveis superiores de nosso próprio ser, níveis estes que estão além do mental comum e pensante. Para que haja tal transformação é necessária a construção de uma ponte entre a mente pensante e a mente superior. Essa ponte é chamada de antakarana. O desenvolvimento desse trabalho é inconsciente e não pode ser controlado pela mente analítica. No nível físico, ele se dá por meio de uma autodisciplina voluntária e oportuna; no nível emocional, é empreendido por meio do desejo de servir, de ser um elo positivo na corrente evolutiva e, principalmente, de dissolver a possessividade sobre os demais seres e sobre as coisas puramente materiais; no nível mental, o trabalho de construção da ponte é feito automaticamente, quando se mantém a aspiração firme e inalterada, o que só é possível por meio da energia da Fé existente na alma do homem como parte de sua íntima essência.
5. Conclusão

O mito de Hércules, em seu todo, integra etapas da caminhada evolutiva do homem na Terra. Esse protagonista simboliza ora nosso aspecto individual, ora a humanidade como um todo. Cabe-nos reconhecer quando se trata de um caso, ou de outro.

Hércules, além desse conhecido personagem mitológico, é, ainda, cada um de nós. Todos somos Hércules, trabalhando sobre a Terra e caminhando mais lenta ou mais rapidamente, conforme o caso. Ele percorre os caminhos que todos percorremos através da vida e as provas que vivencia nós as podemos conhecer também em nossa vida cotidiana, sob diferentes vestes.

Identificamos nossas quedas, retomadas e experiências positivas nos quadros da vida de Hércules. Reconhecemo-nos nessas etapas de evolução, de luta e realização e nos apercebemos de que as aventuras vividas por esse herói correspondem a fases do nosso processo evolutivo. Ninguém pode escapar disso.

Bibliografia
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TABOADA, Francisco Andrés. Excalibur e os Mistérios Iniciáticos. Belo Horizonte. Editora Nova Acrópole. 2001.

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ZABALZA, Arturo López. O Mito de Hércules – As Primeiras Provas. Revista Esfinge n.º 18. P. 16-20. Editora Nova Acrópole. 2007.

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