A Grande Viagem - Casa de Euterpe


Conheço muitos viajantes. Pessoas que sentem imenso prazer em deslocar-se de um lado para o outro à procura de aventuras, novos conhecimentos, novas emoções.
Acho muito enriquecedora essa prática, pois permite uma abertura mental, uma visão aprimorada das coisas e do mundo. Assim, meus amigos andarilhos e viajantes estão de parabéns!
Eu também viajei alguma coisa por ai. Conheci terras e pessoas diferentes e aprendi muito com tudo isso. Todavia, a mais grandiosa viagem que empreendi ainda está em andamento e não tenho data certa para que termine. Isso ocorre porque as terras que visito são imensas e requerem algum tempo para que sejam percorridas. Não apenas percorridas, mas apreendidas e decifradas. Essa terra, as vezes inóspita, outras, hospitaleira é sempre uma fonte de conhecimento profundo e complexo.
A distância em que se situam depende do meu grau de consciência e sua localização, pasmem, é interior. Isso mesmo, essa é a jornada da vida para o interior de mim mesma. Como estou gostando da experiência, resolvi compartilhá-la para que todos saibam que é possível realiza-la.
A pergunta que me fiz quando me propuseram essa aventura foi: para quê? Porque, ao invés de continuar a viver de forma rotineira, iria eu empregar energia nesse intento pessoal? A resposta, achei-a eu mesma. A viagem se dá para que nos conheçamos a nós próprios. Não da forma como imaginamos, mas da forma como nos convida o Oráculo de Delfos. Ou seja, de maneira objetiva e completa.
Mesmo tendo a questão respondida, outra surgiu em minha mente, pois esta não cala com muita frequência. Para que, afinal de contas, preciso desse conhecimento? É certo que possuo alguns outros que têm me servido até o momento. Novamente, depois de pensar um pouco, cheguei à conclusão que de sem ele não há realizações humanas na vida.
Como assim? Ora, é certo que temos nossas metas, nossos objetivos que, em última análise, são nossos sonhos. É certo também que todos queremos alcança-los, realiza-los. Ocorre que muitas vezes não conseguimos por causa dos obstáculos que encontramos no caminho. Assim, um dos benefícios desse conhecimento é ajudar-nos a superar limitações e obstáculos para a consecução de nossos sonhos.
Isso por si só já seria suficiente para que nos lançássemos ao desafio. Mas não é só isso. Esse conhecimento auxilia-nos, ainda, a conseguir equilíbrio na vida e uma dose de sabedoria.
Sabendo disso tudo propus-me ao passeio interior e posso dizer que o que encontrei dá forma a um material para que eu possa trabalhar por uma ou mais existências.
Para explicar a minha experiência, é necessário considerar que nossa conformação vai além daquilo que podemos ver. De acordo com um antigo conhecimento que remonta aos sábios hindus, o homem possui em sua formação sete veículos. Aqui, comentarei acerca dos quatro mais densos, pois é por onde ocorre minha viagem.
O primeiro veículo trata do corpo físico (substância) e da energia etérica que mantém as células unidas, dando forma a ele. É o mais concreto e pesado dos quatro. Quando estamos dispostos a examiná-lo existem algumas perguntas muito simples que podemos fazer, mas que quase nunca fazemos porque não estamos atentos o suficiente para isso: qual é o meu limite? Quais as atividades que sou capaz ou não de desenvolver? Tenho ou não tendência à desorganização? Essas são apenas exemplos que não excluem outras. Quanto mais questionarmos e nos propusermos a encontrar as respostas, mais exato será o conhecimento do veículo, pois quando respondemos de forma fiel, honesta e objetiva teremos uma clara ideia que como funcionamos em nível físico. Essa informação impede-nos de entrarmos em empreitadas que vão além de nossas forças ou de, querendo enfrenta-las, qual o limite que devemos ultrapassar para tanto.
O segundo veículo é a energia que diferencia um corpo vivo de um corpo morto. É a nossa energia vital. É o que faz as plantas crescerem, os animais e a nós mesmos andar, respirar. Um corpo morto, embora ainda possua o veículo físico, já não tem o vital.
Ao aproximarmo-nos desse patamar cumpre-nos questionar: o que me causa cansaço? Como lido com o dinheiro? Como utilizo o tempo? Como respiro? Tenho ou não tendência à falta de ritmo? Da mesma forma que em relação ao físico, aqui também cumpre-nos ser honesto com nós próprios. É importante admitir tudo o que ocorre nesse nível, inclusive a preguiça. Sim, ela é afeta à energia e dificilmente admitimos que a possuímos, mas é raro quem não a tenha. Da mesma forma, a indolência, a inércia. Só existe uma forma de lidarmos com tudo isso: admitindo que existem e em que grau se encontram. Admitida sua existência, menos difícil será examinar suas causas e atuar nelas.
Os sábios da antiga Índia conheciam o terceiro veículo “astral”. É mais sutil que os anteriores e abrange todas as emoções que podemos exprimir: amor, paixão, alegria, entusiasmo, euforia, medo, raiva, inveja, ódio... a lista é imensa.. Algumas emoções, admitimos sem problemas, outras, nem tanto. Dificilmente admitimos a inveja e não é raro que ela exista, assim como a raiva. Fazemos isso porque consideramos “feio” tê-las. Afinal, somos pessoas boas.
Bem, primeiro é preciso admitir: não somo tão bons quanto imaginamos. Segundo: não existem emoções feias. Existem emoções. O que as fazem feias ou não é o momento e como as utilizamos. Assim, conhecer aquelas que nos permeiam mais amiúde, a forma e a intensidade com que se manifestam nos deixa aptos a poder lidar com elas.
Aqui, podemos questionar, entre outras coisas: o que me alegra? O que me entristece? Quais situações me amedrontam e como reajo frente a elas? Quanto tempo levo para me reequilibrar depois de um abalo emocional? Qual a frequência com que isso acontece? Tenho ou não tendência a não assumir responsabilidades? Para cá a mesma regra de ouro: quanto mais questionarmos e nos propusermos a encontrar as respostas, mais exato será o conhecimento do veículo e mais fácil nosso trabalho que equilibrá-lo.
Residem também nesse veículo astral, os pensamentos que são intimamente influenciados pelas emoções. Embora eles devessem influencia-las, ocorre justamente o contrário. A qualidade daqueles depende do teor dessas. O correto seria a clareza daqueles influenciar a qualidade das emoções. Por isso, precisamos saber como andam nossos pensamentos. Qual a sua qualidade. E cabe perguntar: tenho pensamentos circulares? Obsessivos? Em que grau consigo converter um pensamento negativo em positivo? O quanto me deixo dominar por eles? Deixo qualquer coisa entrar em minha mente? Ou impeço a entrada daquilo que não contribui para nada?
Responda com sinceridade. Para isso, será necessário estar atento aos pensamentos e isso, por si só, já é uma grande coisa, pois na maioria das vezes não estamos atentos ao que pensamos e deixamo-nos levar por eles em verdadeiras viagens sobre as quais não temos o menor controle.
O quarto veículo é a mente concreta. Os hindus a chamavam de “mente de desejos”, porque é egoísta, especulativa e calculista. Neste nível, residem as ideias concretas com as quais lidamos no dia a dia. E para conhecê-las podemos questionar: quais leituras me agradam? Minhas ideias são claras? Tenho dificuldade para ordena-las? Tenho ou não tendência para dúvidas e críticas?
Sem exceções, aqui a regra é a mesma: entrar em contato com as ideias para conhece-las e equilibrá-las.
Explorar da forma mais consciente possível esses veículos, nos dará a oportunidade de saber realmente quem somos e de evitar que as circunstâncias nos peguem desprevenidos. Evita com que atuemos por reação e faz com que nos antecipemos às situações. Faz com que deixemos de ser tripulantes de um barco para sermos o timoneiro. Promove nossa saída do time daqueles que dizem “eu sou assim mesmo” para que façamos parte daquele outro time que afirma “eu construo a mim mesmo”.
Pois bem. Se esse conhecimento é tão importante, porque não o adquirimos logo? O que nos impede?
Posso listar algumas causas as quais vivenciei e que não excluem outras. Uma delas é o medo. Medo do desconhecido, daquilo que iremos encontrar. Medo da viagem em si. Medo de nós mesmos e do trabalho que teremos a partir da resolução de caminhar. Medo da caminha dar certo e de sermos expulsos da tribo dos medíocres. Medo de nosso próprio sucesso.
O medo é natural quando objetiva nossa proteção e aviltante quando nos impede o crescimento. É prudente pensarmos nisso.
Outras razões são a procrastinação, a dúvida e as justificativas. A primeira aparece sob a forma de “amanhã eu faço” e retrata a preguiça. A segunda, faz perguntas sem jamais procurar respostas; anda em círculos atrás do próprio rabo, executando a cantinela: será? Será? Será? A terceira procura desculpar as outras duas: não fiz porque..., tenho dúvidas porque... . São entraves poderosos que precisam ser identificados e afastados para que possamos pôr-nos em marcha.
Outra causa aparece sob a forma de debilidade, ou seja, a falta de força para enfrentar adversidades, críticas. Uma vez que nos dispusemos a esse conhecimento, muitas coisas em nós começam a mudar e daí vêm as críticas e muitas vezes a dificuldade na manutenção da mudança.
Temos ainda os apegos. Em muitas ocasiões, ao nos depararmos com algo que precisa ser alterado, um hábito negativo por exemplo, não é raro verificarmos que gostamos do tal hábito! Que o revestimos com uma capa positiva para que possamos mantê-lo e isso impede que avancemos. Por exemplo, as vezes chamamos a preguiça de “precaução”; o medo, de “cuidado” e por ai vamos.
Ora, a natureza é justa e para cada entrave existe uma alavanca que pode removê-lo.
Para o medo, coragem. Devemos agir com o coração e o medo não resistirá.
Para imaturidade, maturidade pessoal que se demonstra por meio da força de vontade.
Para o apego, desapego e clareza de visão para ver as coisas tais como são: preguiça é preguiça e precaução é precaução. São coisas que não se confundem.

Amigos, essa é minha grande viagem. Experimentem o roteiro e vejam que o ponto de chegada não se compara nada, pois nada pode ser comparado a nós mesmos. Somos raros, singulares e únicos. Não percam a oportunidade.

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