Nem Sempre é o que Parece - Casa de Euterpe




A ideia para o texto desta semana ocorreu-me quando, novamente, estava indo para o trabalho. Passando pela L4 (só os iniciados que moram no Distrito Federal entendem essas designações…), na altura da estação da Caesb, vi uma árvore parecidíssima com essa imagem abaixo.

Quando a vi, tive vontade de parar para tirar uma foto, pois a imagem é realmente bela! Não consegui porque naquela via é impossível dar uma paradinha sequer.

Fiquei sem o registro da cena, mas permaneci tão impressionada com a beleza do conjunto formado por árvore e flores entrelaçadas que, chegando ao Tribunal, fui pesquisar do que se travava. E tive uma surpresa: as flores que se enroscam ao longo dos troncos são parasitas! Ou seja, apesar de tanta beleza e aparente harmonia, elas estão sugando a hospedeira, estão sugando a árvore, alimentando-se de sua seiva. Nossa!, mas que é bonito, não há como negar…

Bem, isso me fez refletir acerca do seguinte aspecto: quantas coisas alimentamos – e se alimentam de nós -, cuja natureza nos parece inofensiva, às vezes, bela e, todavia, agem como parasitas? Sugam nossa energia, nossa disposição, nossa força de vontade?

Existem hábitos com os quais convivemos tem tanto tempo que já fazem parte de nossa rotina. Parecem inofensivos, mas que, na verdade, estão nos consumindo sem que tenhamos consciência disso. A procrastinação, por exemplo. Não percebemos que, ao procrastinarmos as coisas, estamos gastando energia em outras menos importantes, pois sempre procrastinamos aquilo que deve ser feito para fazermos aquilo que gostamos ou que nos dará algum tipo de retorno imediato. Com isso, deixamos sempre para depois, para amanhã, aquilo que necessita ser feito, ainda que seja difícil ou que não nos beneficie diretamente. Quando decidimos, finalmente, fazer a dita ação, geralmente, falta-nos tempo!

A crítica é outro exemplo de parasita. Quando somos excessivamente críticos não temos ocasião para dedicarmo-nos à construção de ideias próprias, à reflexão, ao estudo. Usamos as oportunidades de troca para criticarmos juízos, posições e vivências alheias. Com isso, também desperdiçamos energia e perdemos oportunidades de aprendizado.

A busca desenfreada por sucesso, posição social e outras coisas do gênero, também podem ser parasitárias. Parecem importantes e necessárias, parecem bonitas, mas, no fim, desviam nossa atenção das coisas que realmente fazem diferença na vida. Desviam nossa atenção das necessidades do outro, pois nosso tempo está inteiramente voltado para nós próprios. Deixamos, com isso, de exercer a generosidade, a cortesia, a cooperação.

O medo também pode parecer com as ditas “flores”, pois muitas vezes lhe damos o nome de cuidado, prudência. É preciso ver que o medo é natural, mas em demasia, quando se torna paralisante, avilta-nos, uma vez que nos impede de vivermos as experiências necessárias ao nosso desenvolvimento como seres humanos. A covardia, ou excesso de medo, converte-nos em um joguete de todas as violências e as injustiças, escraviza-nos e humilha-nos. Atualmente, rende-se culto ao medo e os jovens são vítimas disso, com os seus escapismos, suas drogas, seu terror pelo esforço, seu pânico ante toda forma de compromisso idealista e generoso. Essa situação os leva à condição de hospedeiros que, ao final, ver-se-ão consumidos por aquilo que lhes parecia vital.

A inércia é um parasita pessoal derivado da preguiça. Quando nos movemos com lentidão acabamos parando. É a preguiça que conduz à inércia, ao não-movimento de todo tipo. É preciso que identifiquemos a existência desse elemento em nós mesmos e tracemos a estratégia para lutar contra ele.

Posso citar, ainda, a debilidade, a distração, o egoísmo, a inveja, a falta de pontualidade, a ira, a negligência, a rotina, a soberba e a volubilidade… . Todos esses elementos podem estar revestidos de “flores” – podemos nomeá-las por sensibilidade, amor próprio, empreendedorismo, calma -, pois é por essa falsa aparência que os justificamos, mas, na verdade, não passam de parasitas. Assim, nem tudo é o que parece.

É preciso dar-lhes o nome que lhes compete, é necessário identificá-los e combatê-los de forma séria e eficaz para que não nos posicionemos frente à vida como meros hospedeiros, mas como seres saudáveis e íntegros.


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