Não Discuto com o Destino - Casa de Euterpe
Outro
dia, estava escolhendo poesias para publicar na Casa de Euterpe quando me deparei
com esse poeminha do Leminski.
Resolvi
refletir um bocadinho a respeito do assunto, pois tenho pensado nisso
ultimamente.
Aí
está uma coisa interessante: não discutir com o destino. Mas será que não é
bastante cômodo agir assim?
Afinal,
parece fácil simplesmente encará-lo. Todavia, antes de “virar a página” e
continuar lendo o livro é bom que lembremos que existe no Universo uma lei
inexorável. Alguns a conhecem como lei de causa e efeito e outros, como lei do
karma. Seja lá o nome que se lhe dê, o fato é que tudo o que “vai, volta” e o
danado do destino que nos bate à porta foi construído, diligentemente, por nós
mesmos, acreditemos nisso ou não... .
Diante
dessa lei, tudo aquilo que emitimos – pensamentos, sentimentos, emoções,
paixões e ações – retorna ao ponto de partida com a mesma força e intensidade.
Assim, não há do que reclamarmos ou nos admirar. Não há o que discutir.
Não
é de hoje que tentam alertar-nos para isso. Os filósofos estoicos (século III
a. C. !) já diziam que somos “construtores de nosso próprio destino”. Ou seja, o
que nos bate à porta hoje é exatamente a visita que convidamos ontem. Eventos
positivos e negativos, dores e prazeres, sucesso e fracasso, alegria e
tristeza... tudo é apenas o convidado chegando para a visita combinada.
Mais
tarde, no século XIX, Helena Petrovna Blavatsky[i]
ensinou que devemos eliminar as causas, quanto aos efeitos, deixar fluir. O que
ela quis dizer foi que ao iniciarmos qualquer tipo de ação, seus frutos devem
ser colhidos com dignidade. Assim, por um lado, de forma muito simples, o mau
humor da manhã pode justificar uma série de ocorrências “estranhas” durante o
dia! Por outro lado, o despertar alegre também justifica um dia em que “tudo
deu certo”.
Não
existem coincidências ou casualidades, apenas causalidade.
Para
entendermos essa dinâmica, imaginemos aquelas figuras montadas com centenas de pedras
de dominó: quando impulsionamos a primeira pedra e esta tomba sobre a próxima é
impossível deter a sequência dos acontecimentos. Todas tombam, uma após as
outras!
Assim
funcionam os eventos cotidianos diante dos quais podemos ser atores ou meros
expectadores. Quando não discutimos com o destino porque simplesmente
entendemos a dinâmica dos acontecimentos e, melhor ainda, cuidamos de promover os
melhores resultados possíveis, somos atores no cenário espetacular da vida.
Todavia, quando olhamos o desenrolar dos fatos de forma a nos tornarmos suas vítimas,
adormecidos e irresponsáveis, somos meros expectadores de um teatro que se
desenrola à nossa revelia.
E
agora?
Alguns
dirão: se não há o que discutir, o que nos resta fazer?
Bem
lembrado!
Vamos
lá. Epicteto, filósofo estoico que viveu entre 55 e 135 d.C., define seu
princípio filosófico agrupando as coisas em duas classes. Uma classe de coisas
sobre as quais podemos exercer nosso poder e o conjunto daquelas sobre as quais
não temos nenhum poder.
Entre
as que não dependem de nós estão o corpo e a sua integridade, as riquezas, as
honras. Entre as que dependem de nós estão nosso bem e nosso mal, pois elas são
o resultado da nossa capacidade de fazer ou de não fazer algo. Agir bem é agir
conforme a nossa natureza e a nossa razão. O que não está sobre nosso poder,
além de não ser da nossa responsabilidade, não pode ser atingido por nossa
vontade. Não adianta perder tempo!
As
duas classes de coisas não podem estar juntas, pois são excludentes e uma destruirá
a outra. Não considerar essa divisão é seguir o caminho que nos levará ao erro.
Ao escolhermos viver para e seguindo as normas do conjunto de coisas que não dominamos,
nos tornará escravos dessas mesmas coisas (moda, padrões de beleza, status). Mas
ao rejeitarmos o que não está sob nossa dependência e dedicarmo-nos ao conjunto
que dominamos – bondade, gentileza, proatividade, disciplina - , vai nos tornar
livres e capazes de construirmos uma vida repleta de efeitos positivos e
felizes.
Assim,
temos muito que fazer e pouco que discutir...
O
que pintar, eu assino!
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[i] Foi uma das
figuras mais notáveis do mundo no último quartel do século XIX. Ela abalou e
desafiou de tal modo as correntes ortodoxas da Religião, da Ciência, da
Filosofia e da Psicologia, que é impossível ficar ignorada. Foi uma verdadeira
iconoclasta - ao rasgar e fazer em pedaços os véus que encobriam a Realidade.
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