Tenha Confiança... - Casa de Euterpe

Art by Catrin Welz-Stein

Escolhi escrever acerca da confiança, porque tenho visto o grande uso que essa palavra tem em nosso momento atual. Não é raro ouvirmos pessoas a exigirem-na e nós mesmos a buscá-la.
Procurando a origem do vocábulo, descobri que ele vem do latim confidentia, “confiança”, de confidere, “acreditar plenamente, com firmeza”, formada por com, intensificativo, mais fidere, “acreditar, crer”, que deriva de fides, “fé”.
Assim, em última análise, ter confiança é ter fé. Acreditar em algo que não vemos e sob o qual não temos possibilidade de controle. É uma entrega. Não existe, nessa questão, meio termo: ou confiamos ou não... simples assim.
Iconograficamente, a Confiança é representada por uma mulher com os cabelos soltos que sustém com ambas as mãos um barco. A Confiança leva consigo o conhecimento de um perigo iminente, assim como a firme crença de vencer a ameaça.
É representada com o barco entre as mãos por ser este um símbolo de confiança, pois com os navios os marinheiros se arriscam a atravessar as ondas do mar, as quais, com seu movimento perfeito, parecem ameaçar, matar ou e exterminar o homem que, abandonando a terra, sai para além de seus limites naturais.[i]
Ora, é possível perceber que a representação da Confiança leva-nos à constatação de que o que está em seu âmago é a certeza de conseguirmos chegar a um porto seguro, ainda que em seu caminho haja mares tempestuosos e rochedos pontiagudos.
Por isso, é necessário entendermos que esse valor não nos é dado de fora para dentro, mas nasce de dentro para fora. É uma força interna que nos dá a certeza de que conseguiremos alcançar o objetivo a que nos propusemos. Portanto, a Confiança não reside no outro, mas em nosso próprio íntimo.
Diante dessa premissa, podemos constatar que não se trata de confiar nas pessoas, mas de confiar em nós mesmos. Quando isso ocorre, a confiança externa é mera consequência.
Por sua vez, essa Confiança interna é fruto da segurança que temos em nós mesmos. A máxima esculpida no frontispício do Oráculo de Delfos - “conhece-te a ti mesmo” – continua válida e constitui a chave para iniciar essa senda.
Esse conhecimento, todavia, não é superficial. Não é aquele que, de uma forma ou de outra, nos dá algumas certezas acerca de nossa personalidade. Não é o conhecimento de nossos hábitos, de nossa aparência física ou daquilo que os outros dizem a nosso respeito.
Esse conhecimento precisa ser denso e ir para além das aparências, de forma a permitir que cheguemos às nossas raízes mais profundas, que subsistem apesar de todas as mudanças; é aquele que se aprofunda nos defeitos e encontra luz em nossas virtudes ocultas.
Feito esse reconhecimento, cumpre-nos o caminho certo da mudança, de nossa transformação em seres humanos cada vez melhores. Essa transformação requer a utilização do magnífico valor da Vontade para que possamos desbastar os defeitos e lapidar nossas virtudes.
Uma vez tendo nos tornado melhores, é possível que singremos os mares no barco da Confiança.
Fortalecidos por meio desse trabalho individual e interno, alcançaremos a tão almejada virtude que, depois de conquistada internamente, refletir-se-á nos demais, produzindo relações confiáveis, saudáveis e fraternas.

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[i] Cesare Ripa – Iconología I

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